“Fora erro acreditar
alguém que precisa ser médium, para atrair a si seres do mundo invisível. Eles
povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, ao nosso lado,
vendo-nos, observando-nos, intervindo em nossas reuniões, seguindo-nos, ou
evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada
influi para isto: ela mais não é do que um meio de comunicação. De acordo com o
que dissemos acerca das causas de simpatia ou antipatia dos Espíritos, facilmente
se compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade com nosso
próprio Espírito, conforme é este graduado, ou degradado.
O Livro dos Médiuns
Cap. XXI – item 232
Uma questão na relação dos
homens com os Espíritos vem se tornando credora de urgentes ponderações. Temos
assinalado entre os adeptos da causa espírita uma acentuada propensão para transferirem
aos Espíritos desencarnados a responsabilidade por seus atos e escolhas. É
crescente a ênfase dada à “influência da espiritualidade inferior” (termo
usualmente empregado no plano físico) nos acontecimentos do dia a dia,
especialmente os que dizem respeito às atividades doutrinárias.
Mais do
que ninguém, nós, os que nos encontramos fora das faixas do corpo físico, temos
que concordar quanto à parcela significativa de forças espirituais que
exercem forte pressão sobre os caminhos
humanos, entretanto, como em muitas questões do nosso estágio de crescimento, o
excesso tem comparecido nesse tema provocando lamentáveis experiências, nas
quais os homens que se julgam detentores de largos conhecimentos encontram
álibis perfeitos para justificar muitas atitudes infelizes, com os quais
procuram escudar-se da responsabilidade pessoal.
Com
muita frequência têm-se constatado rompantes de conflito nos grupamentos
espíritas, cuja análise das causas tende para os temas obsessão, “ciladas
ardilosas dos adversários” e “forças contrárias”. Enquanto é dada uma
importância superlativa às pressões espirituais, os homens deixam de penetrar
na escola da auto-reflexão e do intercâmbio grupal sadio, para aferirem qual a
parcela de compromisso cada qual possui nos insucessos ocorridos. Enquanto se
dá muita importância à obsessão e à ação dos opositores dos homens com tudo o
que aconteceu. Fazendo assim, as equipes de aprendizes agem como se fossem
“marionetes da espiritualidade” , fugindo das lições riquíssimas, caso tivessem
a disposição de investigarem as “brechas mentais” ou “rachaduras” no alicerce
do comportamento, as quais levaram a ruir as mais nobres esperanças de trabalho
e ascensão.
Uma
infinidade de almas, luarizadas pelo conforto do Espiritismo, tem se aportado
na vida extrafísica arrolando como álibi para suas falências a tese das
pressões obsessivas, no entanto, após angariarem coragem para se olharem sem as
“capas” protetoras que gestaram na sua vida psíquica, vão perceber que a causa
de tantas lutas reside em si mesmas.
Inúmeros
companheiros de ideal passam suas vivências doutrinárias escudados por
fantasias anímicas, em torno de obsessores e adversários das tarefas,
completamente indispostos a se auto-avaliarem na conduta Priorizam e
preocupam-se com informes mediúnicos, descuidando de aferir os conflitos
interpessoais sob a ótica do discernimento e da honestidade emocional. Se
procurassem em si próprios e na rotina de seus agrupamentos, encontraria
razoáveis motivos para explicar as investidas espirituais contrárias aos ideias
do bem nos quais participam.
Estejam
certos os amigos na carne desse princípio universal: a sugestão vem de fora,
mas a escolha é intrínsica, podendo ser aceita ou recusada. Seja por induções
mentais ou mesmo pelos infinitos e criativos artifícios criados pelos oponentes
do bem, ainda assim o mérito da decisão é de quem está no corpo, por ser tão
livre e capaz de optar quanto são os adversários de pressionar.
Tumultos,
dissidências, conflitos podem ser estimulados pelos desencarnados, mas nunca
sem a responsabilidade daqueles que lhes foram alvo de suas induções mentais.
Muita vez, equipes de trabalhadores voltam-se, com excessivo valor, para
relatos mediúnicos sobre a natureza das armadilhas inteligentes que souberam
arquitetar os obsessores, descuidando-se de registrar quais foram as
ferramentas que o grupo lhes emprestou para que trabalhassem nos seus planos
nefandos. Em resumo, as causas existentes nos homens para que os assédios
ocorram ficam ofuscadas quando se é dado demasiada importância à ação do mundo
espiritual.
É uma
descaridade afirmar que a causa de semelhantes problemas é da alçada das
entidades espirituais, quando o piso psicológico e moral para o intercâmbio
entre os mundos é formado pelas escolhas humanas. “Não tivesse a liberdade de
seus atos, o homem seria máquina”, já afirmaram sabiamente os Bons Espíritos na
questão 843 de O Livro dos Espíritos. Igualmente asseveram os Mentores da
Verdade que “de ordinário são os Espíritos que vos dirigem”, conforme a questão
459 na mesma obra, não sendo sensato deduzir que dirigem sem o consentimento do
arbítrio de cada individualidade.
De
fato, pressões psíquicas intensas têm sido debruçadas sobre equipes que
trabalham com seriedade e comprometimento. Todavia, isso deve ser motivo de
alegria. É um sinal de que Deus conta conosco no reerguimento daqueles que se
encontram com menos disposições ao bem do que nós. O fato de atacarem, de serem
contra é uma indicativa clara de que algo lhes atrai naquilo que realizamos,
pois, do contrário, ainda que açoitados na condição de “assalariados do além”,
não teriam expressiva força magnética quanto demonstram nas suas intenções.
As
equipes espíritas devem se lançar o quanto antes a devotado programa de
humanização, entre seus frequentadores, trabalhadores e dirigentes, no intuito
de fortalecerem suas relações interpessoais e sinalizar caminhos para uma
relação intrapessoal mais livre e plena de saúde. Esse investimento sólido será
uma fertilização das leiras de trabalho espiritual, fortalecendo o terreno das
semeaduras do bem contra as pragas ocasionais...
Somente
quem ainda não aprendeu as habilidades da fé e do otimismo, confiando
plenamente em Deus e seus poderes no bem, empresta força maior aos adversários
do amor do que eles têm.
Sem
avançarmos para o deboche e a presunção em relação às suas ações “engenhosas”,
em tempo algum devemos temer as ciladas do mal quando munidos da conduta reta.
A
simples crença no bem, com o psiquismo centrado na absorção dos inexauríveis recursos da Misericórdia Divina, é defesa de
incomparável valor ante as incansáveis arremetidas dos opositores.
Não são
as pressões que devemos focar nossa atenção, mas na capacidade de controle
interior de quantos estão gerando a luz em si mesmos, ante as investidas das
trevas que sempre existiram e, por longo tempo, ainda vão existir na Terra.
Pressões
psíquicas são termômetros vivos das fragilidades que temos em nós. Um excelente
campo de autodescobrimento e educação para grupos e pessoas.
A
convivência é um campo de lições primárias para a quase totalidade dos
habitantes da Terra, em ambas as esferas da vida. A crítica não nos agrada, não
fomos educados para ouvir as avaliações sobre nossa personalidade caprichosa.
Sendo assim, é mais fácil despejar as responsabilidades para fora de si, transferir
a causa de muitas lutas das relações para Espíritos ou vidas pretéritas. O
personalismo peçonhento, o qual ainda aflora com intensidade de nossas ações,
cria uma barreira psicológica para as colocações educativas que as relações em
grupo nos propiciam. Muita sinceridade com amor, e firmeza com brandura, serão
exigidos de quantos anseiam por vencer as carapaças enfermiças do
individualismo.
Vemos
assim de quanta importância será o cultivo de uma convivência afetuosa e
moralizante. A afetividade cria “amarras”, “nós” que não permitem desfazer ao
primeiro sopro ou decepção. Havendo ternura e bem-estar de conviver, criamos
laços que serão proteções para as horas da corrigenda necessária ou do momento
de conflito na equipe.
Só
existe pressão porque existe resistência mental, força de defesa, um sinal de
que quem resiste tem seus valores, suas qualidades. Portanto, deixemos de lado
os devaneios, as informações classificadas como mediúnicas que, em muitas
ocasiões, não têm passado de substratos culturais dos médiuns que não se
reciclam no conhecimento e na vida interior, ou ainda de dirigentes que são
escravos da presunção e de convicções irredutíveis, os quais se impõem como
“enviados ou missionários” conduzindo coletividades à fascinação.
Os
médiuns e dirigentes que se conduzem à luz da mensagem do Cristo devem fazer-se
“cartas de esperança e otimismo”, conquanto reconheçam a natureza, a amplitude
e a força dos obstáculos que podem surgir pelas sendas das pressões
espirituais.
A
literatura mediúnica é farta e valorosa na explicação de infinitas formas de
ação das falanges perversas, embora devamos esclarecer que todo o conjunto das
informações, disponível atualmente nos volumes doutrinários, nada mais
representa que ínfima parcela das criações da “genialidade malévola” a qual
rompeu com todos os limites éticos na busca de seus interesses egoístas. Apesar
dessa grave realidade, mais do conhecer as “engenhocas do mal”, precisam os
homens na carne de lucidez nos raciocínios, para entenderem a si próprios, e
educação dos sentimentos para edificarem suas defesas interiores contra as
artimanhas da maldade calculada.
O temor
e a excessiva atenção que muitos conferem às organizações que semeiam a dor
deve ser redirecionada para a cautela e a vigilância com o mundo íntimo. Nisso
reside o alvo de todo o ideal que alimenta nossa rota para Deus.
Os
amigos no corpo físico reflitam sobre a enorme vantagem que possuem sobre os
desencarnados, em situações como aqui analisadas. O abafamento do cérebro é
alivio e misericórdia. Nossos irmãos, entretanto, aqui na erraticidade, vivem
as mais infelizes escravizações mentais íntimas e exteriores quando sob o rigor
das lutas hipnóticas de baixo teor, carpindo angústias, psicoses, culpas e
dores psíquicas variadas, apelando para nossas preces com intensidade máxima.
Uma prece sentida para essas criaturas, algumas vezes, é capaz de ser absorvida
por elas com dor e repúdio, um remédio amargo, entretanto de grande eficácia.
Allan
Kardec na sua espontânea e saudável curiosidade científica indagou aos
imortais: “Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?(O Livro dos
Espíritos questão 465) E eles, muito sabiamente, deram uma resposta simples e
universal que deve ser refletida por quantos desejem melhorar suas relações com
o mundo dos “mortos-vivos”. Responderam eles: “Para que sofrais como eles
sofrem”
Compete
a cada um de vós optar se desejam ou não sofrer como eles, ou sofrer por
eles...
Ermance Dufaux
Livro: Unidos pelo Amor