domingo, 20 de novembro de 2011

Pressões Psíquicas sobre Equipes



“Fora erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, ao nosso lado, vendo-nos, observando-nos, intervindo em nossas reuniões, seguindo-nos, ou evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada influi para isto: ela mais não é do que um meio de comunicação. De acordo com o que dissemos acerca das causas de simpatia ou antipatia dos Espíritos, facilmente se compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade com nosso próprio Espírito, conforme é este graduado, ou degradado.
O Livro dos Médiuns
Cap. XXI – item 232
                Uma questão na relação dos homens com os Espíritos vem se tornando credora de urgentes ponderações. Temos assinalado entre os adeptos da causa espírita uma acentuada propensão para transferirem aos Espíritos desencarnados a responsabilidade por seus atos e escolhas. É crescente a ênfase dada à “influência da espiritualidade inferior” (termo usualmente empregado no plano físico) nos acontecimentos do dia a dia, especialmente os que dizem respeito às atividades doutrinárias.
                Mais do que ninguém, nós, os que nos encontramos fora das faixas do corpo físico, temos que concordar quanto à parcela significativa de forças espirituais que exercem  forte pressão sobre os caminhos humanos, entretanto, como em muitas questões do nosso estágio de crescimento, o excesso tem comparecido nesse tema provocando lamentáveis experiências, nas quais os homens que se julgam detentores de largos conhecimentos encontram álibis perfeitos para justificar muitas atitudes infelizes, com os quais procuram escudar-se da responsabilidade pessoal.
                Com muita frequência têm-se constatado rompantes de conflito nos grupamentos espíritas, cuja análise das causas tende para os temas obsessão, “ciladas ardilosas dos adversários” e “forças contrárias”. Enquanto é dada uma importância superlativa às pressões espirituais, os homens deixam de penetrar na escola da auto-reflexão e do intercâmbio grupal sadio, para aferirem qual a parcela de compromisso cada qual possui nos insucessos ocorridos. Enquanto se dá muita importância à obsessão e à ação dos opositores dos homens com tudo o que aconteceu. Fazendo assim, as equipes de aprendizes agem como se fossem “marionetes da espiritualidade” , fugindo das lições riquíssimas, caso tivessem a disposição de investigarem as “brechas mentais” ou “rachaduras” no alicerce do comportamento, as quais levaram a ruir as mais nobres esperanças de trabalho e ascensão.
                Uma infinidade de almas, luarizadas pelo conforto do Espiritismo, tem se aportado na vida extrafísica arrolando como álibi para suas falências a tese das pressões obsessivas, no entanto, após angariarem coragem para se olharem sem as “capas” protetoras que gestaram na sua vida psíquica, vão perceber que a causa de tantas lutas reside em si mesmas.
                Inúmeros companheiros de ideal passam suas vivências doutrinárias escudados por fantasias anímicas, em torno de obsessores e adversários das tarefas, completamente indispostos a se auto-avaliarem na conduta Priorizam e preocupam-se com informes mediúnicos, descuidando de aferir os conflitos interpessoais sob a ótica do discernimento e da honestidade emocional. Se procurassem em si próprios e na rotina de seus agrupamentos, encontraria razoáveis motivos para explicar as investidas espirituais contrárias aos ideias do bem nos quais participam.
                Estejam certos os amigos na carne desse princípio universal: a sugestão vem de fora, mas a escolha é intrínsica, podendo ser aceita ou recusada. Seja por induções mentais ou mesmo pelos infinitos e criativos artifícios criados pelos oponentes do bem, ainda assim o mérito da decisão é de quem está no corpo, por ser tão livre e capaz de optar quanto são os adversários de pressionar.
                Tumultos, dissidências, conflitos podem ser estimulados pelos desencarnados, mas nunca sem a responsabilidade daqueles que lhes foram alvo de suas induções mentais. Muita vez, equipes de trabalhadores voltam-se, com excessivo valor, para relatos mediúnicos sobre a natureza das armadilhas inteligentes que souberam arquitetar os obsessores, descuidando-se de registrar quais foram as ferramentas que o grupo lhes emprestou para que trabalhassem nos seus planos nefandos. Em resumo, as causas existentes nos homens para que os assédios ocorram ficam ofuscadas quando se é dado demasiada importância à ação do mundo espiritual.
                É uma descaridade afirmar que a causa de semelhantes problemas é da alçada das entidades espirituais, quando o piso psicológico e moral para o intercâmbio entre os mundos é formado pelas escolhas humanas. “Não tivesse a liberdade de seus atos, o homem seria máquina”, já afirmaram sabiamente os Bons Espíritos na questão 843 de O Livro dos Espíritos. Igualmente asseveram os Mentores da Verdade que “de ordinário são os Espíritos que vos dirigem”, conforme a questão 459 na mesma obra, não sendo sensato deduzir que dirigem sem o consentimento do arbítrio de cada individualidade.
                De fato, pressões psíquicas intensas têm sido debruçadas sobre equipes que trabalham com seriedade e comprometimento. Todavia, isso deve ser motivo de alegria. É um sinal de que Deus conta conosco no reerguimento daqueles que se encontram com menos disposições ao bem do que nós. O fato de atacarem, de serem contra é uma indicativa clara de que algo lhes atrai naquilo que realizamos, pois, do contrário, ainda que açoitados na condição de “assalariados do além”, não teriam expressiva força magnética quanto demonstram nas suas intenções.
                As equipes espíritas devem se lançar o quanto antes a devotado programa de humanização, entre seus frequentadores, trabalhadores e dirigentes, no intuito de fortalecerem suas relações interpessoais e sinalizar caminhos para uma relação intrapessoal mais livre e plena de saúde. Esse investimento sólido será uma fertilização das leiras de trabalho espiritual, fortalecendo o terreno das semeaduras do bem contra as pragas ocasionais...
                Somente quem ainda não aprendeu as habilidades da fé e do otimismo, confiando plenamente em Deus e seus poderes no bem, empresta força maior aos adversários do amor do que eles têm.
                Sem avançarmos para o deboche e a presunção em relação às suas ações “engenhosas”, em tempo algum devemos temer as ciladas do mal quando munidos da conduta reta.
                A simples crença no bem, com o psiquismo centrado na absorção dos inexauríveis  recursos da Misericórdia Divina, é defesa de incomparável valor ante as incansáveis arremetidas dos opositores.
                Não são as pressões que devemos focar nossa atenção, mas na capacidade de controle interior de quantos estão gerando a luz em si mesmos, ante as investidas das trevas que sempre existiram e, por longo tempo, ainda vão existir na Terra.
                Pressões psíquicas são termômetros vivos das fragilidades que temos em nós. Um excelente campo de autodescobrimento e educação para grupos e pessoas.
                A convivência é um campo de lições primárias para a quase totalidade dos habitantes da Terra, em ambas as esferas da vida. A crítica não nos agrada, não fomos educados para ouvir as avaliações sobre nossa personalidade caprichosa. Sendo assim, é mais fácil despejar as responsabilidades para fora de si, transferir a causa de muitas lutas das relações para Espíritos ou vidas pretéritas. O personalismo peçonhento, o qual ainda aflora com intensidade de nossas ações, cria uma barreira psicológica para as colocações educativas que as relações em grupo nos propiciam. Muita sinceridade com amor, e firmeza com brandura, serão exigidos de quantos anseiam por vencer as carapaças enfermiças do individualismo.
                Vemos assim de quanta importância será o cultivo de uma convivência afetuosa e moralizante. A afetividade cria “amarras”, “nós” que não permitem desfazer ao primeiro sopro ou decepção. Havendo ternura e bem-estar de conviver, criamos laços que serão proteções para as horas da corrigenda necessária ou do momento de conflito na equipe.
                Só existe pressão porque existe resistência mental, força de defesa, um sinal de que quem resiste tem seus valores, suas qualidades. Portanto, deixemos de lado os devaneios, as informações classificadas como mediúnicas que, em muitas ocasiões, não têm passado de substratos culturais dos médiuns que não se reciclam no conhecimento e na vida interior, ou ainda de dirigentes que são escravos da presunção e de convicções irredutíveis, os quais se impõem como “enviados ou missionários” conduzindo coletividades à fascinação.
                Os médiuns e dirigentes que se conduzem à luz da mensagem do Cristo devem fazer-se “cartas de esperança e otimismo”, conquanto reconheçam a natureza, a amplitude e a força dos obstáculos que podem surgir pelas sendas das pressões espirituais.
                A literatura mediúnica é farta e valorosa na explicação de infinitas formas de ação das falanges perversas, embora devamos esclarecer que todo o conjunto das informações, disponível atualmente nos volumes doutrinários, nada mais representa que ínfima parcela das criações da “genialidade malévola” a qual rompeu com todos os limites éticos na busca de seus interesses egoístas. Apesar dessa grave realidade, mais do conhecer as “engenhocas do mal”, precisam os homens na carne de lucidez nos raciocínios, para entenderem a si próprios, e educação dos sentimentos para edificarem suas defesas interiores contra as artimanhas da maldade calculada.
                O temor e a excessiva atenção que muitos conferem às organizações que semeiam a dor deve ser redirecionada para a cautela e a vigilância com o mundo íntimo. Nisso reside o alvo de todo o ideal que alimenta nossa rota para Deus.
                Os amigos no corpo físico reflitam sobre a enorme vantagem que possuem sobre os desencarnados, em situações como aqui analisadas. O abafamento do cérebro é alivio e misericórdia. Nossos irmãos, entretanto, aqui na erraticidade, vivem as mais infelizes escravizações mentais íntimas e exteriores quando sob o rigor das lutas hipnóticas de baixo teor, carpindo angústias, psicoses, culpas e dores psíquicas variadas, apelando para nossas preces com intensidade máxima. Uma prece sentida para essas criaturas, algumas vezes, é capaz de ser absorvida por elas com dor e repúdio, um remédio amargo, entretanto de grande eficácia.
                Allan Kardec na sua espontânea e saudável curiosidade científica indagou aos imortais: “Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?(O Livro dos Espíritos questão 465) E eles, muito sabiamente, deram uma resposta simples e universal que deve ser refletida por quantos desejem melhorar suas relações com o mundo dos “mortos-vivos”. Responderam eles: “Para que sofrais como eles sofrem”
                Compete a cada um de vós optar se desejam ou não sofrer como eles, ou sofrer por eles...
Ermance Dufaux
  Livro: Unidos pelo Amor

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