"Em verdade vos digo que não
ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada”.
Jesus, Mateus, 24:2
Nos bastidores dos dramas sociais visíveis aos
olhares humanos, trava-se uma batalha decisiva do bem contra o mal. Tirania e
indiferença tomam conotações incomparáveis, estabelecendo uma hecatombe moral
sem precedentes. Em meio dessa faina desairosa, os verdadeiros discípulos de
Jesus são convocados à formação de trincheiras resistentes, de amor
incondicional, em favor da paz e do bem.
Não teremos regeneração sem retaguarda e defesa.
Se existem os missionários do progresso cuja função é criar o bem de todos, é
mister entender que, mesmo eles, somente terão êxito sob regime de amparo e
motivação. Enorme contingente de criaturas com tarefas definidas para o avanço
social, em todos os campos das atividades humanas, tomba em armadilhas de
perdição quando fustigadas pelos verdugos do mal que buscam, de todas as
formas, reter o crescimento do planeta.
Muita ingenuidade acreditar que os inesquecíveis
baluartes da ciência e da cultura, da política e da religião, agiram à mercê de
cuidados espirituais especiais em suas missões. Quanta ordem e disciplina
preenchem os caminhos das almas que mourejam de mente afinada ao progresso
coletivo! Quanta atenção e interesse fraterno despertam os que abrem seus
corações ao amor sem fronteiras! Como imaginar que Albert Schweitzer e Gandhi
realizaram a messe de bênçãos sem enormes medidas de segurança do Mais Alto?! Einstein
e Freud foram assessorados ininterruptamente. Kardec recebeu de Jesus a
autorização para medidas de proteção jamais utilizadas a nenhum missionário na
face da Terra. O bem, para ser espalhado, não prescinde de fileiras de defesa
eficientes. Vivemos e respiramos sob os auspícios de uma rede de reflexos. Quaisquer
desordens, assim como uma oração, são capazes de alterar nosso psiquismo. Luzes
que se acendem fortalecem toda a rede.
Quaisquer lampejos de paz atraem esfomeada
multidão de almas atormentadas, sob o jugo de tiranos dotados de uma longa
trajetória de inteligência e perspicácia na perversidade. Essas almas
escravizadas pela maldade procuram agir como astutos vigilantes para arruinar
todos os focos de luz sobre a Terra. Essa a razão dos golpes sucessivos nas
"atividades-amor" do Espiritismo cristão.
Apesar da luz dos conhecimentos espíritas, o
tesouro espiritual das informações não tem sido suficiente para despertar
muitos adeptos a uma nova ordem de atitudes e idéias face aos desafios da hora
presente...
O intercâmbio interdimensional nesse contexto, que
poderia servir de fortaleza aos mais auspiciosos projetos de liberdade e
ascensão, em inumeráveis casos, não passa de enxada afiada em plena semeadura à
espera do lavrador que a deseje manejar a contento.
A história é a mãe da cultura, e a cultura é o
conjunto das noções que os homens aceitam como referências para se conduzirem
em seus grupos. A cultura espírita, em torno das questões mediúnicas, responde
por uma mentalidade que inspira práticas e posturas nem sempre ajustadas aos
reclames do tempo espiritual da transição. Transição é o tempo mental da
renovação, a hora do recomeço e da reavaliação. Nesse cenário, os aprendizes da
mediunidade serão aferidos com rigor. Muita coragem e sacrifício serão exigidos
de quem realmente anseia servir sob novos e mais apropriados regimes, nesse
tempo de contínuas mudanças.
Indispensável romper conceitos, vencer barreiras
intelectuais e ter a ousadia para esculpir os novos modelos de relação
intermundos, retirando a mediunidade do dogmatismo que aprisiona o raciocínio
humano e da tristeza que estorcega o coração como se os médiuns cumprissem
severa sanção.
Sem exageros, vivemos um tempo em que as comportas
mediúnicas, a despeito de estarem em plena movimentação, não permitem que a
linfa cristalina da imortalidade goteje com a necessária abundância por suas
frestas para dessedentar o homem aprisionado ao deserto das paixões
materiais...
Vivemos uma nova proibição mosaica como a do Velho
Testamento! Proibição essa mais nociva que a dos velhos textos hebreus, porque
não se faz por decretos formais, passíveis de serem revogados, mas sob a coação
impiedosa do preconceito sutil, das convenções estéreis e de sofismas
aprisionantes - hábitos de difícil extirpação da mente humana.
Indispensável que haja um "Novo Tabor"
em que Jesus, ao lado de Moisés e Elias, revogue a proibição da
comunicabilidade dos espíritos com os homens.
O espírito Charles Rosma e as irmãs Fox
protagonizaram o "Tabor da Era do Espírito". O drama de Rosma,
assassinado há décadas na residência dos Fox, é o de bilhões de almas na
humanidade à espera de quem lhes possa estudar a dor e amparar os caminhos,
presas a grilhões de maldade e infortúnio ou em porões fétidos de amargura e
dor. Só haverá renovação social quando houver limpeza psicosférica.
É hora de abertura, desenvolvimento de parâmetros experimentais
sem perder o caráter moral e educativo para o qual as atuais práticas de
intercâmbio se destinam. Nesse objetivo se firma a autora espiritual Ermance
Dufaux em continuidade à série Atitudes de Amor, sob os auspícios do
venerável baluarte do amor fraternal, Adolpho Bezerra de Menezes.
Um clamor ao serviço abnegado e consciente na regeneração
da humanidade em ambas as esferas de vida, formação de frentes corajosas de
amor, tarefas maiores de libertação e asseio psíquico da Terra. Eis os desafios
delegados pelo Cristo a todos que O amam. Desafios que, em muitas oportunidades,
são substituídos pela atitude impensada da acomodação...
Enquanto inúmeros aprendizes da mediunidade optam pelo
fascínio da mordomia para servirem, preferindo o exercício mediúnico distante
do sacrifício e nos braços do convencionalismo, Jesus conta com os destemidos,
dispostos à segunda milha das ações que ultrapassam o comodismo inspirado na
rigidez da pureza filosófica.
A atitude de amor sem lindes de Eurípedes
Barsanulfo deve ser exemplo inspirador para nossas ações no legítimo bem.
Somente nesse clima de testemunho sacrificial, encontraremos condições de
plantio das sementes do mundo novo que sonhamos para o futuro da humanidade.
Ao enfocar a história de líderes cristãos tombados
no remorso sob o açoite da negligência com a qual se conduziram durante a vida
física, Ermance Dufaux abdica da visão derrotista de falência e queda
irremediável para alertar ao homem terreno sobre quanto lhe compete realizar no
clima do sacrifício e da renúncia em favor de si mesmo quando bafejado pelas
benesses da Doutrina Espírita.
Seu enfoque é compassivo e pródigo de esperança ao
destacar a extensão da tolerância ativa das almas superiores para com nossas
necessidades de aperfeiçoamento. Ao mesmo tempo, a autora convoca-nos aos mais
árduos imperativos peculiares ao tempo da transição. Digno de nota, igualmente,
é o seu esforço sacrificial em manter fidelidade ao pensamento e às
características de seus personagens, tarefa essa cumprida a contento segundo
avaliação de nossa equipe espiritual.
O sentimento da imortalidade precisa ser
construído na intimidade do homem reencarnado. É instrução a serviço da
espiritualização. Essa instrução, no entanto, carece de aplicação prática que
retrate quanto possível a realidade imortal. Daí o imperativo de vivências
mediúnicas incomuns, para além dos rígidos padrões de segurança e utilidade
consagrados pela comunidade doutrinária.
Um desafio de investigação e fé espera os
servidores da mediunidade em tempos de transição. Nesses textos encontraremos
uma preciosa reflexão a esse mister.
Investigação para dentro e para fora de si mesmo.
Conscientes de que evolução é processo íntimo e
gradativo, não temos dúvida que certos ensinos nem sempre acompanham o tempo
psicológico e espiritual de alguns aprendizes. Estou convicta, porém, de que,
nessas linhas despretensiosas, existem motivos de sobra para endossá-los como
convite inadiável ao tempo de maioridade das idéias espíritas, independente de
aceitação e acolhimento por parte de quantos se considerem os intelectuais do
Espiritismo.
Perante a iniciativa dos discípulos sinceros ao
mostrarem a estrutura do templo para Jesus, Ele declarou: "Em verdade
vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada”. O
templo material simbolizava a concepção encharcada de materialismo por parte
dos que ansiavam seguir o Cristo.
Não descreiam dessa assertiva! Os conceitos e as
práticas se renovam celeremente. Descerra-se um horizonte novo e belo,
educativo e libertador ante os olhos de quantos tenham olhos de ver e ouvidos de ouvir...
Da amante do bem e servidora do Cristo,
Maria Modesto Cravo – 1º de janeiro de 2005.
Do livro “Lírios de Esperança” Prefácio – Editora Dufaux - 2006
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