"E Pedro o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote e, entrando, assentou-se entre os criados, para ver o fim."
Mateus, 26:58
Em
todos os tempos da humanidade, os cooperadores do bem e os missionários da
vanguarda sempre contaram com retaguardas espirituais seguras para as tarefas
que desempenharam, mesmo desconhecendo, muitas vezes, o amparo do qual eram
alvos. Toda luz que se acende requer cuidados especiais na continuidade de sua
expansão.
Uma
escola e um hospital, assim como quaisquer instituições sociais do progresso,
jamais se verão livres das lufadas cruéis do mal e da treva que tentam
apagar-Ihes o brilho da bondade e do amor. É da Lei: os que avançam atraem para
si quantos tentam entravar a ascensão. O objetivo é a multiplicação do bem
através da cooperação sacrificial na renovação de almas.
Uma
educadora alinhada ou um aluno promissor podem trazer, no âmago, o peso cruel
da "lama psíquica" em que se encontravam antes do renascimento,
ligando-se aos expoentes do desequilíbrio. Assim sendo, a escola educativa
passa a funcionar como posto de orientação de almas em crescimento, atraindo o
séqüito indisciplinado de desencarnados para dentro de suas portas.
Um
médico carinhoso ou um paciente em convalescença podem carregar, na mente, os
"monstros da insensatez e da loucura" em sintonia com os asseclas da
impiedade e do ódio. Dessa forma, o lugar abençoado de recuperação torna-se
também um celeiro de amparo a corações desorientados, abrindo campo para a ação
dos oponentes da Verdade que enxameiam nos seus corredores e dependências.
Em
quaisquer rincões da Terra, nos dias da transição, existe sede e fome, tormenta
e dor, esmolando mãos amigas e instrução correta em favor da libertação. Um
encarnado representa as enfermidades ou as necessidades de uma multidão.
Nos
bastidores imortais das tragédias e dramas da sociedade carnal, encontramos
fatores causais ou influentes na ação organizada da maldade. As raízes do mal
se alongam do visível para o invisível e vice-versa.
O
avanço tecnológico, a explosão da cultura e a busca de Deus no século XX
provocaram um desconforto nos abismos em forma de comoções ostensivas. Como se
fosse um vulcão, a pressão exercida nas sombras expeliu para a superfície do
orbe as larvas do desespero e da angústia, da maldade e da desobediência. A
Ordem Divina é limpeza, regeneração, liberdade e paz. .
Hoje,
mais que nunca, o bem exige alicerces seguros e trincheiras eficazes. Essa a
razão da oposição sistemática em relação aos esforços espíritas. Quaisquer
projetos de elevação e consolo são alvos de atenções aguerridas dos adversários
da luz. É nesse contexto que podemos entender o valor inestimável das
trincheiras de amor, construídas no desinteresse e na forja da coragem. Entre
os homens, equipes que se amam e respeitam. E, além da matéria, grupos
socorristas que operem quais pólos produtivos de lídimo serviço cristão em
favor da libertação de consciências.
Inúmeras
atividades e metas espíritas têm sido boicotadas ou mantidas em retardo por
faltarem esses círculos vibratórios de proteção. Sem retaguarda espiritual, até
para manter um estudo do Evangelho no lar, será exigido da família a
movimentação de forças incontáveis...
Os
grupos mediúnicos funcionam, nessa hora grave de asseio da psicosfera, como
salutares ungüentos cicatrizantes ou medidas preventivas em favor da evolução e
da ordem.
A
superação de parâmetros na aquisição de conhecimentos novos pode ser amealhada
através da instauração de iniciativas experimentais. Os contributos morais da
compaixão, do desejo de auxiliar e de aprender são as únicas linhas morais a
serem conservadas nessa modalidade de aprendizado. Quanto ao mais, bom senso,
ousadia, rompimento com padrões e muito diálogo serão os fios condutores de
novos modelos de parceria entre mundos físico e espiritual.
Os
grupos conscientes do momento pelo qual atravessamos, não se norteiem pelas
convenções aceitáveis na coletividade doutrinária que, quase sempre, mostra-se
indisposta a andar a segunda milha... Trilhar vivências novas...
O preconceito e a descrença alheia costumam arruinar muitos
planos do bem!
Jesus estabeleceu: "não vim ab-rogar a Lei, porém, cumpri-la”.
A
maioria das práticas de intercâmbio se orienta pelos textos. Poucos ousam a
investigação, a observação, a experimentação fraterna. O apego à letra é um
rigoroso processo de engessamento relativamente a questões essencialmente
subjetivas, portanto sem critérios definitivos de segurança. O estudo e a
disciplina, conquanto imprescindíveis, não deveriam se converter em cadeados
para a espontaneidade...
Sem
produção de conhecimento novo sobre imortalidade, as práticas mediúnicas atolam
em lamentável processo de estagnação, isto é, uma rotina de ação que estanca a
mais preciosa qualidade dos médiuns e dos grupamentos: a criatividade - única
habilidade capaz de ampliar os horizontes de análise sobre a profundidade das
questões invisíveis que cercam a matéria palpável. Esse conhecimento novo,
entretanto, depende da aquisição de vivências novas, sem as amarras do
convencionalismo.
Uma
questão credora de minuciosas reflexões aos companheiros de lide na vida
física: que motivos estariam impedindo a formação de trincheiras corajosas nos
serviços de intercâmbio para além dos padrões? Conquanto essa seja uma valorosa
questão de debates de vós outros, na carne, deixaremos nossa colaboração,
incondicionalmente aberta a críticas, embora nutrida de clareza.
Além
da dogmatização, tal ordem de fatos na seara desemboca na formação moral do
próprio grupo. Exigir-se-á uma convivência muito cristalina e rica de confiança
para que se ergam pólos valorosos e destemidos de serviço com o Cristo nessa
hora de transição.
Por
sua vez, o paciente labor de tecer essas relações duradouras e autênticas na
convivência pedirá algumas condições, costumeiramente desprezadas por variadas
razões. Que conjunto doutrinário esculpirá um clima familiar de confiança e
honestidade sem ombrear desafios em comum, além da própria tarefa mediúnica?
Que comunidade conseguirá vencer os ardis da vida emocional sem aprender a
dialogar em grupo sobre seus sentimentos, com isenção de melindres? Quais
grupamentos conseguirão diluir seus papéis na equipe para agirem como parceiros
de uma jornada, sem desapegarem de suas expressões de personalismo no dia-a-dia
do centro espírita? Quantos companheiros terão suficiente dignidade para
colocarem suas dúvidas íntimas ou desconfiança em relação aos outros, sem
recorrerem a terceiros, completamente fora do ambiente experimental em teste no
seu grupo? Quantas iniciativas serão formuladas no clima da pureza de corações
nas quais médiuns ou dirigentes, por mais experiência amealhada, disponham-se a
"rasgarem" suas folhas de serviço e recriarem sempre o que
aprenderam?
Imprescindível
superar conceitos e barreiras culturais erguidas no valioso laboratório do
intercâmbio intermundos. Todo saber acumulado deverá conduzir a novas sondagens
com propósitos educativos. Assim como Allan Kardec lançou-se na pesquisa
honesta dos fenômenos, contrariando todas as opiniões a respeito de sua
atitude, hoje, os aprendizes da mediunidade que almejam servir à causa do
Cristo são convocados a imprescindíveis discussões.
Até
onde a "cultura das convenções" que avassalou o psiquismo de inúmeros
cooperadores na seara terá penetrado, igualmente, nesse campo sagrado da
relação interdimensional? Os parâmetros estabelecidos como roteiros de
segurança mediúnica não estarão, em verdade, constituindo fortes amarras ao
progresso das práticas de intercâmbio? Que caminhos tomar para situar a tarefa
mediúnica como laboratório educativo de almas, distante do dogmatismo? Como
edificar grupos de servidores mais adequados aos imperativos da hora de
transição? Como resgatar e como utilizar a espontaneidade? Que noções cristãs
exarar sobre educação mediúnica? Quais seriam os critérios na seleção dos
componentes de uma frente de serviços mediúnicos em tempos de transição?
Sem
as trincheiras espirituais do amor, o mundo padecerá ainda mais as dores da
transição. O Hospital Esperança, essa obra de amor erguida pelo Apóstolo da Benevolência,
Eurípedes Barsanulfo, constitui um dos mais avançados núcleos de defesa,
orientação e abrigo para a comunidade espírita mundial. O Espírito Verdade,
prudente em Sua tarefa de amor, projetou medidas preventivas para os desafios
no transporte da árvore do Evangelho para o Brasil. A "Obra de
Eurípedes" é um exemplo vivo da Bondade Celeste em suas expressões de
compaixão sem lindes, uma "trincheira" do amor em favor da paz
mundial.
Importa-nos
indagar: "a quem seguiremos?" Ao Cristo e a Sua proposta ou ao
estreito pátio das formalidades que tanto atraem as almas tíbias e preguiçosas,
interesseiras e vaidosas?
Pedro,
no instante crucial de sua decisão, preferiu camuflar-se entre os criados,
amargando terrível culpa pelo resto da existência. Seguir Jesus de longe é
fruir o clima das facilidades, submisso à aprovação da coletividade. É gozar
das concessões concedidas pelo Senhor, recebendo um talento sem a aplicação
desejável.
Um
"novo Tabor" apresenta-se aos lidadores da mediunidade. Nele
transfiguram-se, além de infindáveis baluartes do mundo, gênios perversos.
Desconheceram a erraticidade enquanto no corpo e agora anseiam por auxiliar a
extinguir o estreito limite entre esferas de vida, cooperando com os planos do
Mestre para o futuro da humanidade.
Artistas
e expoentes da cultura, políticos e educadores, mulçumanos e evangélicos,
índios e ecologistas, astrônomos e cientistas, poetas e escritores, economistas
e pacificadores, todos eles têm procurado as tarefas interdimensionais sem
serem ouvidos. Todos eles trabalham pela paz. Pelo Cristo. Imprescindível a
abertura de mentes e conceitos. O Céu está mais próximo da Terra do que se
imagina.
Paulo
Freire e Tarsila do Amaral, Jacques Cousteau e Charles Darwin, Albert
Schweitzer e Osho, Tancredo Neves e Joaquim Nabuco, Carlos Prestes e Rousseau,
Sei Aurobindo e Elisabet D'Esperance, Einstein e Sigmund Freud, Jung e Pirre
Janet. São alguns dos infinitos nomes de quantos estão recorrendo aos pólos
protetores das reuniões mediúnicas de vanguarda para buscarem recurso e amparo
para as obras que edificaram ou para aquelas que se tornaram tutores. Vivem
todos eles nesse ecossistema intercontinental como artífices ativos dos tempos
de regeneração, sob a tutela de almas nobres e mais elevadas, orientando-os na
nova dimensão.
Além
do Tabor, esse símbolo de abertura das trocas psíquicas, espera-nos os campeões
do mal, mas, igualmente, os mais gloriosos expoentes do bem, com tesouros de
alívio e incentivo à ingente caminhada dos homens.
Trabalhemos
sem cessar pela formação desses postos avançados de ligação com a vida
extrafísica e um magnífico horizonte se abrirá aos nossos olhos. Somente então
perceberemos com mais clareza a exuberância da mediunidade e a interpretaremos
como canal por onde flui a Excelsa Misericórdia em favor da Obra da Criação
para o bem de todos.
Cícero
dos Santos Pereira, 1ºde janeiro de 2005.
Livro Lírios de Esperança - Introdução
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