domingo, 6 de novembro de 2011

A quem vamos seguir?




 
"E Pedro o seguiu de longe até o pátio do  sumo sacerdote e, entrando, assentou-se entre os criados, para ver o fim."
Mateus, 26:58



Em todos os tempos da humanidade, os cooperadores do bem e os missionários da vanguarda sempre contaram com retaguardas espirituais seguras para as tarefas que desempenharam, mesmo desconhecendo, muitas vezes, o amparo do qual eram alvos. Toda luz que se acende requer cuidados especiais na continuidade de sua expansão.
Uma escola e um hospital, assim como quaisquer instituições sociais do progresso, jamais se verão livres das lufadas cruéis do mal e da treva que tentam apagar-Ihes o brilho da bondade e do amor. É da Lei: os que avançam atraem para si quantos tentam entravar a ascensão. O objetivo é a multiplicação do bem através da cooperação sacrificial na renovação de almas.
Uma educadora alinhada ou um aluno promissor podem trazer, no âmago, o peso cruel da "lama psíquica" em que se encontravam antes do renascimento, ligando-se aos expoentes do desequilíbrio. Assim sendo, a escola educativa passa a funcionar como posto de orientação de almas em crescimento, atraindo o séqüito indisciplinado de desencarnados para dentro de suas portas.
Um médico carinhoso ou um paciente em convalescença podem carregar, na mente, os "monstros da insensatez e da loucura" em sintonia com os asseclas da impiedade e do ódio. Dessa forma, o lugar abençoado de recuperação torna­-se também um celeiro de amparo a corações desorientados, abrindo campo para a ação dos oponentes da Verdade que enxameiam nos seus corredores e dependências.
Em quaisquer rincões da Terra, nos dias da transição, existe sede e fome, tormenta e dor, esmolando mãos amigas e instrução correta em favor da libertação. Um encarnado representa as enfermidades ou as necessidades de uma multidão.
Nos bastidores imortais das tragédias e dramas da sociedade carnal, encontramos fatores causais ou influentes na ação organizada da maldade. As raízes do mal se alongam do visível para o invisível e vice-versa.
O avanço tecnológico, a explosão da cultura e a busca de Deus no século XX provocaram um desconforto nos abismos em forma de comoções ostensivas. Como se fosse um vulcão, a pressão exercida nas sombras expeliu para a superfície do orbe as larvas do desespero e da angústia, da maldade e da desobediência. A Ordem Divina é limpeza, regeneração, liberdade e paz.     .
Hoje, mais que nunca, o bem exige alicerces seguros e trincheiras eficazes. Essa a razão da oposição sistemática em relação aos esforços espíritas. Quaisquer projetos de elevação e consolo são alvos de atenções aguerridas dos adversários da luz. É nesse contexto que podemos entender o valor inestimável das trincheiras de amor, construídas no desinteresse e na forja da coragem. Entre os homens, equipes que se amam e respeitam. E, além da matéria, grupos socorristas que operem quais pólos produtivos de lídimo serviço cristão em favor da libertação de consciências.
Inúmeras atividades e metas espíritas têm sido boicotadas ou mantidas em retardo por faltarem esses círculos vibratórios de proteção. Sem retaguarda espiritual, até para manter um estudo do Evangelho no lar, será exigido da família a movimentação de forças incontáveis...
Os grupos mediúnicos funcionam, nessa hora grave de asseio da psicosfera, como salutares ungüentos cicatrizantes ou medidas preventivas em favor da evolução e da ordem.
A superação de parâmetros na aquisição de conhecimentos novos pode ser amealhada através da instauração de iniciativas experimentais. Os contributos morais da compaixão, do desejo de auxiliar e de aprender são as únicas linhas morais a serem conservadas nessa modalidade de aprendizado. Quanto ao mais, bom senso, ousadia, rompimento com padrões e muito diálogo serão os fios condutores de novos modelos de parceria entre mundos físico e espiritual.
Os grupos conscientes do momento pelo qual atravessamos, não se norteiem pelas convenções aceitáveis na coletividade doutrinária que, quase sempre, mostra-se indisposta a andar a segunda milha...  Trilhar vivências novas...
          O preconceito e a descrença alheia costumam arruinar muitos planos do bem!
          Jesus estabeleceu: "não vim ab-rogar a Lei, porém, cumpri-la”.
A maioria das práticas de intercâmbio se orienta pelos textos. Poucos ousam a investigação, a observação, a experimentação fraterna. O apego à letra é um rigoroso processo de engessamento relativamente a questões essencialmente subjetivas, portanto sem critérios definitivos de segurança. O estudo e a disciplina, conquanto imprescindíveis, não deveriam se converter em cadeados para a espontaneidade...
Sem produção de conhecimento novo sobre imortalidade, as práticas mediúnicas atolam em lamentável processo de estagnação, isto é, uma rotina de ação que estanca a mais preciosa qualidade dos médiuns e dos grupamentos: a criatividade - única habilidade capaz de ampliar os horizontes de análise sobre a profundidade das questões invisíveis que cercam a matéria palpável. Esse conhecimento novo, entretanto, depende da aquisição de vivências novas, sem as amarras do convencionalismo.
Uma questão credora de minuciosas reflexões aos companheiros de lide na vida física: que motivos estariam impedindo a formação de trincheiras corajosas nos serviços de intercâmbio para além dos padrões? Conquanto essa seja uma valorosa questão de debates de vós outros, na carne, deixaremos nossa colaboração, incondicionalmente aberta a críticas, embora nutrida de clareza.
Além da dogmatização, tal ordem de fatos na seara desemboca na formação moral do próprio grupo. Exigir-se-á uma convivência muito cristalina e rica de confiança para que se ergam pólos valorosos e destemidos de serviço com o Cristo nessa hora de transição.
Por sua vez, o paciente labor de tecer essas relações duradouras e autênticas na convivência pedirá algumas condições, costumeiramente desprezadas por variadas razões. Que conjunto doutrinário esculpirá um clima familiar de confiança e honestidade sem ombrear desafios em comum, além da própria tarefa mediúnica? Que comunidade conseguirá vencer os ardis da vida emocional sem aprender a dialogar em grupo sobre seus sentimentos, com isenção de melindres? Quais grupamentos conseguirão diluir seus papéis na equipe para agirem como parceiros de uma jornada, sem desapegarem de suas expressões de personalismo no dia-a­-dia do centro espírita? Quantos companheiros terão suficiente dignidade para colocarem suas dúvidas íntimas ou desconfiança em relação aos outros, sem recorrerem a terceiros, completamente fora do ambiente experimental em teste no seu grupo? Quantas iniciativas serão formuladas no clima da pureza de corações nas quais médiuns ou dirigentes, por mais experiência amealhada, disponham-se a "rasgarem" suas folhas de serviço e recriarem sempre o que aprenderam?
Imprescindível superar conceitos e barreiras culturais erguidas no valioso laboratório do intercâmbio intermundos. Todo saber acumulado deverá conduzir a novas sondagens com propósitos educativos. Assim como Allan Kardec lançou­-se na pesquisa honesta dos fenômenos, contrariando todas as opiniões a respeito de sua atitude, hoje, os aprendizes da mediunidade que almejam servir à causa do Cristo são convocados a imprescindíveis discussões.
Até onde a "cultura das convenções" que avassalou o psiquismo de inúmeros cooperadores na seara terá penetrado, igualmente, nesse campo sagrado da relação interdimensional? Os parâmetros estabelecidos como roteiros de segurança mediúnica não estarão, em verdade, constituindo fortes amarras ao progresso das práticas de intercâmbio? Que caminhos tomar para situar a tarefa mediúnica como laboratório educativo de almas, distante do dogmatismo? Como edificar grupos de servidores mais adequados aos imperativos da hora de transição? Como resgatar e como utilizar a espontaneidade? Que noções cristãs exarar sobre educação mediúnica? Quais seriam os critérios na seleção dos componentes de uma frente de serviços mediúnicos em tempos de transição?
Sem as trincheiras espirituais do amor, o mundo padecerá ainda mais as dores da transição. O Hospital Esperança, essa obra de amor erguida pelo Apóstolo da Benevolência, Eurípedes Barsanulfo, constitui um dos mais avançados núcleos de defesa, orientação e abrigo para a comunidade espírita mundial. O Espírito Verdade, prudente em Sua tarefa de amor, projetou medidas preventivas para os desafios no transporte da árvore do Evangelho para o Brasil. A "Obra de Eurípedes" é um exemplo vivo da Bondade Celeste em suas expressões de compaixão sem lindes, uma "trincheira" do amor em favor da paz mundial.
Importa-nos indagar: "a quem seguiremos?" Ao Cristo e a Sua proposta ou ao estreito pátio das formalidades que tanto atraem as almas tíbias e preguiçosas, interesseiras e vaidosas?
Pedro, no instante crucial de sua decisão, preferiu camuflar-se entre os criados, amargando terrível culpa pelo resto da existência. Seguir Jesus de longe é fruir o clima das facilidades, submisso à aprovação da coletividade. É gozar das concessões concedidas pelo Senhor, recebendo um talento sem a aplicação desejável.
Um "novo Tabor" apresenta-se aos lidadores da mediunidade. Nele transfiguram-se, além de infindáveis baluartes do mundo, gênios perversos. Desconheceram a erraticidade enquanto no corpo e agora anseiam por auxiliar a extinguir o estreito limite entre esferas de vida, cooperando com os planos do Mestre para o futuro da humanidade.
Artistas e expoentes da cultura, políticos e educadores, mulçumanos e evangélicos, índios e ecologistas, astrônomos e cientistas, poetas e escritores, economistas e pacificadores, todos eles têm procurado as tarefas interdimensionais sem serem ouvidos. Todos eles trabalham pela paz. Pelo Cristo. Imprescindível a abertura de mentes e conceitos. O Céu está mais próximo da Terra do que se imagina.
Paulo Freire e Tarsila do Amaral, Jacques Cousteau e Charles Darwin, Albert Schweitzer e Osho, Tancredo Neves e Joaquim Nabuco, Carlos Prestes e Rousseau, Sei Aurobindo e Elisabet D'Esperance, Einstein e Sigmund Freud, Jung e Pirre Janet. São alguns dos infinitos nomes de quantos estão recorrendo aos pólos protetores das reuniões mediúnicas de vanguarda para buscarem recurso e amparo para as obras que edificaram ou para aquelas que se tornaram tutores. Vivem todos eles nesse ecossistema intercontinental como artífices ativos dos tempos de regeneração, sob a tutela de almas nobres e mais elevadas, orientando-os na nova dimensão.
Além do Tabor, esse símbolo de abertura das trocas psíquicas, espera-nos os campeões do mal, mas, igualmente, os mais gloriosos expoentes do bem, com tesouros de alívio e incentivo à ingente caminhada dos homens.
Trabalhemos sem cessar pela formação desses postos avançados de ligação com a vida extrafísica e um magnífico horizonte se abrirá aos nossos olhos. Somente então perceberemos com mais clareza a exuberância da mediunidade e a interpretaremos como canal por onde flui a Excelsa Misericórdia em favor da Obra da Criação para o bem de todos.


Cícero dos Santos Pereira, de janeiro de 2005.
Livro Lírios de Esperança - Introdução



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