“O dever primordial de toda a criatura humana, o primeiro
ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase
todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar!” V. Monod. (Bordéus,
1862.)
O Evangelho Segundo
Espiritismo
Capítulo XXVII – item
22
Intenso desejo acompanha a humanidade em todos os tempos: ser feliz. Entretanto, um incômodo sentimento de impotência aprisiona o homem na realização desse projeto, ou seja, a ignorância sobre como trabalhar pela sua felicidade. Como vencer esse abismo que se abre entre a necessidade de paz interior e as grandes lutas que se apresentam a cada dia, afastando-o cada vez mais desse ideal?
Estremunhado
pelo cansaço em não encontrar respostas lúcidas e satisfatórias para suas metas
de júbilo e harmonia, a maioria das criaturas rendem-se às propostas humanas de prazer como sendo a
alternativa que mais fácil e rapidamente permitem-lhes obter alguma
gratificação, ainda que passageira.
Forma-se
assim, através do mecanismo mental da reflexão automática, um processo coletivo
de hipnose sob o jugo da ilusão e da mentira consentidas, escravizando bilhões
de almas no atoleiro dos vícios comportamentais de variados matizes.
Reflexão
automática é o hábito de consumir pensamentos estabelecendo um rotina mental
sem utilização da “consciência crítica”, um processo que funciona por
estimulação condicionada sem a participação ativa da vontade e da inteligência,
interligando todas as mentes em todas as esferas de vida. Indução, sugestão e
assimilação são operações psíquicas que respondem por esse quadro que, em sã
análise, constitui uma grave questão social. Fenômenos telepáticos e mediúnicos
formam a radiografia básica desse “ecossistema psíquico”. Patologias mentais e
orgânicas, obsessões e auto-obsessões surgem nesse cenário compondo a
psicosfera de bairros e cidades, estados e países, continentes e mundos.
Composta
de aproximadamente 30 bilhões de almas, a população geral da Terra tem hoje um
contingente de pouco mais de 1/6 de sua totalidade no corpo carnal. Considera-se
que nessa extensa e vigorosa “teia de ondas”, mesmo esses 5/6 de criaturas fora
da matéria têm como centro de interesses
o planeta das provas e expiações terrenas, influindo, sobremaneira, na economia
psíquica da humanidade em perfeito regime de troca, determinando mais do que
imaginais os rumos coletivos e individuais na dignidade ou na leviandade de
propósitos, na paz ou no conflito armado.
Convém-nos,
nesse contexto, em favor da reeducação de nossos potenciais, refletir com
seriedade sobre um dos mais delicados temas da atualidade: a sexualidade.
Naturalmente,
a mentira avassalou esse campo sagrado das conquistas humanas com lastimável
epidemia de imitação decorrente da massificação. A palavra mentira vem do latim
e, entre vários significados, extraímos esse: inventar, imaginar. Sob
expressiva influência da mídia eletrônica, o sexo em desalinho moral obteve
requintes de inferioridade e desvalor através de truanescas invencionices do
relaxamento moral. Depois da televisão, a grande rede mundial, a internet,
propiciou ainda mais estímulos para a “devassidão a domicílio”, preeenchendo o
vazio dos solitários de imagens degradantes de perversidade pela pornografia
sem lindes éticos.
Os
costumes no lar, já que boa parcela dos educadores perdeu a noção de limite,
avançam para uma derrocada nos hábitos a pretexto de modernização. Diante da
beleza corporal, os pais, ao invés de ensinarem responsabilidade e pudor, quase
sempre excitam a sensualidade precoce e a banalização. Porque se encontram
também escravos de estereótipos de conduta, conquanto o desejo de não verem os
filhos desorientados, amargam elevada soma de conflitos pessoais não
solucionados que interferem na sua tarefa educacional junto à prole.
Nesse clima
social, os delitos do afeto e do sexo continuam fazendo vítimas e gerando dor.
Telepatias deprimentes e conúbios mediúnicos exploradores formam o ambiente
astral de várias localidades, expelindo energias entorpecedoras e hipnóticas,
abalando o raciocínio e instigando os instintos animalescos aos quais, a
maioria de nós, ainda nos encontramos jungidos.
O
desafio ético de usar o sexo com responsabilidade continua sendo superado por
poucos que se dispõem ao sacrifício de vencer a si mesmo, dentro de um proposta
de profundidade nos terrenos da alma.
As
forças das estimulações exteriores comprometem os propósitos sinceros mesmo
daqueles que acalentam os ideais renovadores, exigindo do candidato à
autotransformação um esforço hercúleo para colimar suas nobres metas.
A força
sexual é comparável a uma represa gigantesca que, para ter seu potencial
utilizado paro o progresso, carece de uma usina controladora, a fim de drenar a
água em proporções adequadas, evitando inundações e desastres de toda espécie
nos domínios do seu curso. Se a energia criadora não for disciplinada pelas
comportas da contenção, da fidelidade e do amor fraternal, dificilmente tal
força da alma será dirigida para fins de crescimento e libertação.
Nesses
dias tormentosos, o sexo ganha apoio da mídia na criação de ilusões de
espectros sombrios sob a análise ética-comportamental. A mentira do “amor
sexual” condicionado à felicidade é uma hipnose coletiva na humanidade, gerando
um lamentável desvio da saúde e alimentando as miragens da posse nas relações,
fazendo com que os relacionamentos, carentes de segurança e da fonte viva da
alegria, possam se chafurdar em provas dolorosas no campo do ciúme e da inveja,
da dependência e do desrespeito, da infidelidade e da crueldade – algumas das
veias de fuga pelas quais percorrem os encontros e desencontros entre casais e
famílias.
Face a
isso, um “turbilhão energético” provido de vida e movimento permeia por toda a
psicosfera do orbe. Qual se fosse uma serpente sedutora criada pelas emanações
primitivas, resulta das atitudes perante a sexualidade entre todas as
comunidades. Semelhante a um “enxame epidêmico e contagiante” , essas
aglomerações fluídicas são absorvidas e alimentadas em regime de troca por
todas esferas vivas do grande “ecossistema” da psicosfera terrena.
A
defesa da vida interior requer mais que contenção de impulsos. Muito além
disso, faz-se urgente aprender o exercício do bem gerando novos reflexos
através da consolidação de interesses elevados no reino do espírito. Decerto a
disciplina dos instintos será necessária, mas somente o desenvolvimento de
valores morais sólidos promover-nos-á a outros estágios de crescimento nas
questões da sexualidade. A esse respeito compete-nos ponderar a postura que adotamos ante a maior fonte de apelos da
energia erótica, o corpo físico. Que
sentimentos e pensamentos devem nortear o cosmo mental na relação diária
com o corpo? Como adquirir uma visão enobrecida sobre o instrumento carnal?
Como “olhar” para o templo sagrado do corpo alheio e experimentar emoções
enriquecedoras? Como impedir a rotina dos pensamentos que nos inclinam à
vaidade e a lascívia ante os estímulos da estética corporal?
Zelo e
cuidados necessários com o templo físico em nada podem nos prejudicar, contudo
o problema surge nos sentimentos que nos permitimos perante as atrações
físicas. Esmagadora parcela das almas na carne adota atitudes pouco
construtivas nesse tema. Além dos “elementos magnéticos irradiadores” com
intensa força de impulsão. Quando acrescido da simples intenção de atrair e
chamar a atenção para si, essa impulsão assemelha-se a filamentos sutis,
similares a tentáculos aprisionantes expelidos pela criatura na direção daquele
ou daqueles a quem deseja causar admiração, tornando-se uma “passarela de
atrações” que lhe custará um ônus para a saúde e o equilíbrio emocional.
Tudo se
resume à lei universal da sintonia. Veremos o corpo conforme o que trazemos na
intimidade. Sabemos, todavia, à luz da visão imortalista, que além do corpo
carnal, a ele encontra-se integrado o ser espiritual, repleto de valores e
vivências que transcendem os limites sensoriais da matéria. Aprender a
identificar-nos com essa “essencialidade” é o caminho para a reeducação das
tendências eróticas. Torna-se imprescindível vivermos o “estado de oração”,
aprendendo a sondar o que existe para além do que os olhos podem divisar.
Exupery afirmou: “o essencial é invisível aos olhos”, e quando V. Monod
recomenda, na frase acima transcrita, que a prece seja o primeiro ato do dia, é
porque estamos retomando o contato com o corpo após uma noite de emancipação. É
o preparo para que consigamos elavar-nos acima das sensações e permitir a
fluência dos sentimentos nobres, antes mesmo de ingressarmos no “vigoroso imã”
da convivência pública. É o estado da mente alerta que vai nos ensejar “olhos
de ver”.
Aprender
a captar a “essencialidade” do outro é perceber-lhe os eflúvios da alma, seus
medos, suas dores, seus valores, suas vibrações e necessidades. É ir além do
perceptível e “encontrar o mundo subjetivo” do próximo sentindo-lhe
integralmente. O resultado será a sublimação de nossos sentimentos pela lei de
correspondência vibracional, atraindo forças que vão conspirar a favor de
nossos objetivos de ascensão.
Assim
como preparamos o corpo para o despertamento, igualmente devemos nos lançar ao
preparo espiritual pare retornar as refregas do dia. A essa atitude chamamos de
“interrupção do fluxo condicionado” da vida mental. É adentrar na “teia de
correntes etéreas”, para não se contaminar ou ser sugestionado pela força atrativa
desse mar de vibrações pestilenciais em ambientes coletivos.
Esse
“estado de oração” é a alma sintonizada com o melhor de todos, condição
interior que requer, por enquanto, muita vigilância e oração de todos nós para
ser atingida. Quem ora recolhe auxílio para os interesses elevados. Quem ora
toma contato com o “Deus interno” ativando a “expansão” da consciência,
desatando energias de alto poder construtivo e libertador sobre todos os corpos
e na psicosfera ambiente. A vida conspira com os propósitos do bem, basta que
nos devotemos a eles.
Estabelecido
esse estado interior de dignificação espiritual, o próximo passo é lançar-se ao
esforço reeducativo na transformação dos hábitos. O tempo responderá com
salutares benefícios interiores de paz, com o psiquismo livre de energias
enfermiças da hipnose coletiva do despudor e da lascívia, tornando a mente
acessível ao trânsito das inspirações e ideias saudáveis em clima de plenitude.
Portanto,
inscrevamo-nos nesse curso diário da oração preparatória tão logo despertos na
carne. Faça seus cuidados fisiológicos paro o despertamento sensorial, após o
que amplie os cuidados com o Espírito. A oração desperta forças ignoradas que
serão farta fonte de manutenção do estado de paz que carecemos, ante a
empreitada sobre o dinâmico mundo das percepções e dos estímulos.
Somente
dessa forma iluminaremos os nossos olhos para que tenhamos luz na visão do
mundo que nos cerca, e segundo o Divino Condutor, “se os teus olhos forem bons,
todo o teu corpo terá luz”. (Mateus, 6:22.)
Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Ermance Dufaux
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