domingo, 20 de novembro de 2011

Pressões Psíquicas sobre Equipes



“Fora erro acreditar alguém que precisa ser médium, para atrair a si seres do mundo invisível. Eles povoam o espaço; temo-los incessantemente em torno de nós, ao nosso lado, vendo-nos, observando-nos, intervindo em nossas reuniões, seguindo-nos, ou evitando-nos, conforme os atraímos ou repelimos. A faculdade mediúnica em nada influi para isto: ela mais não é do que um meio de comunicação. De acordo com o que dissemos acerca das causas de simpatia ou antipatia dos Espíritos, facilmente se compreenderá que devemos estar cercados daqueles que têm afinidade com nosso próprio Espírito, conforme é este graduado, ou degradado.
O Livro dos Médiuns
Cap. XXI – item 232
                Uma questão na relação dos homens com os Espíritos vem se tornando credora de urgentes ponderações. Temos assinalado entre os adeptos da causa espírita uma acentuada propensão para transferirem aos Espíritos desencarnados a responsabilidade por seus atos e escolhas. É crescente a ênfase dada à “influência da espiritualidade inferior” (termo usualmente empregado no plano físico) nos acontecimentos do dia a dia, especialmente os que dizem respeito às atividades doutrinárias.
                Mais do que ninguém, nós, os que nos encontramos fora das faixas do corpo físico, temos que concordar quanto à parcela significativa de forças espirituais que exercem  forte pressão sobre os caminhos humanos, entretanto, como em muitas questões do nosso estágio de crescimento, o excesso tem comparecido nesse tema provocando lamentáveis experiências, nas quais os homens que se julgam detentores de largos conhecimentos encontram álibis perfeitos para justificar muitas atitudes infelizes, com os quais procuram escudar-se da responsabilidade pessoal.
                Com muita frequência têm-se constatado rompantes de conflito nos grupamentos espíritas, cuja análise das causas tende para os temas obsessão, “ciladas ardilosas dos adversários” e “forças contrárias”. Enquanto é dada uma importância superlativa às pressões espirituais, os homens deixam de penetrar na escola da auto-reflexão e do intercâmbio grupal sadio, para aferirem qual a parcela de compromisso cada qual possui nos insucessos ocorridos. Enquanto se dá muita importância à obsessão e à ação dos opositores dos homens com tudo o que aconteceu. Fazendo assim, as equipes de aprendizes agem como se fossem “marionetes da espiritualidade” , fugindo das lições riquíssimas, caso tivessem a disposição de investigarem as “brechas mentais” ou “rachaduras” no alicerce do comportamento, as quais levaram a ruir as mais nobres esperanças de trabalho e ascensão.
                Uma infinidade de almas, luarizadas pelo conforto do Espiritismo, tem se aportado na vida extrafísica arrolando como álibi para suas falências a tese das pressões obsessivas, no entanto, após angariarem coragem para se olharem sem as “capas” protetoras que gestaram na sua vida psíquica, vão perceber que a causa de tantas lutas reside em si mesmas.
                Inúmeros companheiros de ideal passam suas vivências doutrinárias escudados por fantasias anímicas, em torno de obsessores e adversários das tarefas, completamente indispostos a se auto-avaliarem na conduta Priorizam e preocupam-se com informes mediúnicos, descuidando de aferir os conflitos interpessoais sob a ótica do discernimento e da honestidade emocional. Se procurassem em si próprios e na rotina de seus agrupamentos, encontraria razoáveis motivos para explicar as investidas espirituais contrárias aos ideias do bem nos quais participam.
                Estejam certos os amigos na carne desse princípio universal: a sugestão vem de fora, mas a escolha é intrínsica, podendo ser aceita ou recusada. Seja por induções mentais ou mesmo pelos infinitos e criativos artifícios criados pelos oponentes do bem, ainda assim o mérito da decisão é de quem está no corpo, por ser tão livre e capaz de optar quanto são os adversários de pressionar.
                Tumultos, dissidências, conflitos podem ser estimulados pelos desencarnados, mas nunca sem a responsabilidade daqueles que lhes foram alvo de suas induções mentais. Muita vez, equipes de trabalhadores voltam-se, com excessivo valor, para relatos mediúnicos sobre a natureza das armadilhas inteligentes que souberam arquitetar os obsessores, descuidando-se de registrar quais foram as ferramentas que o grupo lhes emprestou para que trabalhassem nos seus planos nefandos. Em resumo, as causas existentes nos homens para que os assédios ocorram ficam ofuscadas quando se é dado demasiada importância à ação do mundo espiritual.
                É uma descaridade afirmar que a causa de semelhantes problemas é da alçada das entidades espirituais, quando o piso psicológico e moral para o intercâmbio entre os mundos é formado pelas escolhas humanas. “Não tivesse a liberdade de seus atos, o homem seria máquina”, já afirmaram sabiamente os Bons Espíritos na questão 843 de O Livro dos Espíritos. Igualmente asseveram os Mentores da Verdade que “de ordinário são os Espíritos que vos dirigem”, conforme a questão 459 na mesma obra, não sendo sensato deduzir que dirigem sem o consentimento do arbítrio de cada individualidade.
                De fato, pressões psíquicas intensas têm sido debruçadas sobre equipes que trabalham com seriedade e comprometimento. Todavia, isso deve ser motivo de alegria. É um sinal de que Deus conta conosco no reerguimento daqueles que se encontram com menos disposições ao bem do que nós. O fato de atacarem, de serem contra é uma indicativa clara de que algo lhes atrai naquilo que realizamos, pois, do contrário, ainda que açoitados na condição de “assalariados do além”, não teriam expressiva força magnética quanto demonstram nas suas intenções.
                As equipes espíritas devem se lançar o quanto antes a devotado programa de humanização, entre seus frequentadores, trabalhadores e dirigentes, no intuito de fortalecerem suas relações interpessoais e sinalizar caminhos para uma relação intrapessoal mais livre e plena de saúde. Esse investimento sólido será uma fertilização das leiras de trabalho espiritual, fortalecendo o terreno das semeaduras do bem contra as pragas ocasionais...
                Somente quem ainda não aprendeu as habilidades da fé e do otimismo, confiando plenamente em Deus e seus poderes no bem, empresta força maior aos adversários do amor do que eles têm.
                Sem avançarmos para o deboche e a presunção em relação às suas ações “engenhosas”, em tempo algum devemos temer as ciladas do mal quando munidos da conduta reta.
                A simples crença no bem, com o psiquismo centrado na absorção dos inexauríveis  recursos da Misericórdia Divina, é defesa de incomparável valor ante as incansáveis arremetidas dos opositores.
                Não são as pressões que devemos focar nossa atenção, mas na capacidade de controle interior de quantos estão gerando a luz em si mesmos, ante as investidas das trevas que sempre existiram e, por longo tempo, ainda vão existir na Terra.
                Pressões psíquicas são termômetros vivos das fragilidades que temos em nós. Um excelente campo de autodescobrimento e educação para grupos e pessoas.
                A convivência é um campo de lições primárias para a quase totalidade dos habitantes da Terra, em ambas as esferas da vida. A crítica não nos agrada, não fomos educados para ouvir as avaliações sobre nossa personalidade caprichosa. Sendo assim, é mais fácil despejar as responsabilidades para fora de si, transferir a causa de muitas lutas das relações para Espíritos ou vidas pretéritas. O personalismo peçonhento, o qual ainda aflora com intensidade de nossas ações, cria uma barreira psicológica para as colocações educativas que as relações em grupo nos propiciam. Muita sinceridade com amor, e firmeza com brandura, serão exigidos de quantos anseiam por vencer as carapaças enfermiças do individualismo.
                Vemos assim de quanta importância será o cultivo de uma convivência afetuosa e moralizante. A afetividade cria “amarras”, “nós” que não permitem desfazer ao primeiro sopro ou decepção. Havendo ternura e bem-estar de conviver, criamos laços que serão proteções para as horas da corrigenda necessária ou do momento de conflito na equipe.
                Só existe pressão porque existe resistência mental, força de defesa, um sinal de que quem resiste tem seus valores, suas qualidades. Portanto, deixemos de lado os devaneios, as informações classificadas como mediúnicas que, em muitas ocasiões, não têm passado de substratos culturais dos médiuns que não se reciclam no conhecimento e na vida interior, ou ainda de dirigentes que são escravos da presunção e de convicções irredutíveis, os quais se impõem como “enviados ou missionários” conduzindo coletividades à fascinação.
                Os médiuns e dirigentes que se conduzem à luz da mensagem do Cristo devem fazer-se “cartas de esperança e otimismo”, conquanto reconheçam a natureza, a amplitude e a força dos obstáculos que podem surgir pelas sendas das pressões espirituais.
                A literatura mediúnica é farta e valorosa na explicação de infinitas formas de ação das falanges perversas, embora devamos esclarecer que todo o conjunto das informações, disponível atualmente nos volumes doutrinários, nada mais representa que ínfima parcela das criações da “genialidade malévola” a qual rompeu com todos os limites éticos na busca de seus interesses egoístas. Apesar dessa grave realidade, mais do conhecer as “engenhocas do mal”, precisam os homens na carne de lucidez nos raciocínios, para entenderem a si próprios, e educação dos sentimentos para edificarem suas defesas interiores contra as artimanhas da maldade calculada.
                O temor e a excessiva atenção que muitos conferem às organizações que semeiam a dor deve ser redirecionada para a cautela e a vigilância com o mundo íntimo. Nisso reside o alvo de todo o ideal que alimenta nossa rota para Deus.
                Os amigos no corpo físico reflitam sobre a enorme vantagem que possuem sobre os desencarnados, em situações como aqui analisadas. O abafamento do cérebro é alivio e misericórdia. Nossos irmãos, entretanto, aqui na erraticidade, vivem as mais infelizes escravizações mentais íntimas e exteriores quando sob o rigor das lutas hipnóticas de baixo teor, carpindo angústias, psicoses, culpas e dores psíquicas variadas, apelando para nossas preces com intensidade máxima. Uma prece sentida para essas criaturas, algumas vezes, é capaz de ser absorvida por elas com dor e repúdio, um remédio amargo, entretanto de grande eficácia.
                Allan Kardec na sua espontânea e saudável curiosidade científica indagou aos imortais: “Com que fim os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal?(O Livro dos Espíritos questão 465) E eles, muito sabiamente, deram uma resposta simples e universal que deve ser refletida por quantos desejem melhorar suas relações com o mundo dos “mortos-vivos”. Responderam eles: “Para que sofrais como eles sofrem”
                Compete a cada um de vós optar se desejam ou não sofrer como eles, ou sofrer por eles...
Ermance Dufaux
  Livro: Unidos pelo Amor

Sexualidade e Hipnose Coletiva



“O dever primordial de toda a criatura humana, o primeiro ato que deve assinalar a sua volta à vida ativa de cada dia, é a prece. Quase todos vós orais, mas quão poucos são os que sabem orar!” V. Monod. (Bordéus, 1862.)
O Evangelho Segundo Espiritismo
Capítulo XXVII – item 22
              
Intenso desejo acompanha a humanidade em todos os tempos: ser feliz. Entretanto, um incômodo sentimento de impotência aprisiona o homem na realização desse projeto, ou seja, a ignorância sobre como trabalhar  pela sua felicidade. Como vencer esse abismo que se abre entre a necessidade de paz interior e as grandes lutas que se apresentam a cada dia, afastando-o cada vez mais desse ideal?
                Estremunhado pelo cansaço em não encontrar respostas lúcidas e satisfatórias para suas metas de júbilo e harmonia, a maioria das criaturas rendem-se  às propostas humanas de prazer como sendo a alternativa que mais fácil e rapidamente permitem-lhes obter alguma gratificação, ainda que passageira.
                Forma-se assim, através do mecanismo mental da reflexão automática, um processo coletivo de hipnose sob o jugo da ilusão e da mentira consentidas, escravizando bilhões de almas no atoleiro dos vícios comportamentais de variados matizes.
                Reflexão automática é o hábito de consumir pensamentos estabelecendo um rotina mental sem utilização da “consciência crítica”, um processo que funciona por estimulação condicionada sem a participação ativa da vontade e da inteligência, interligando todas as mentes em todas as esferas de vida. Indução, sugestão e assimilação são operações psíquicas que respondem por esse quadro que, em sã análise, constitui uma grave questão social. Fenômenos telepáticos e mediúnicos formam a radiografia básica desse “ecossistema psíquico”. Patologias mentais e orgânicas, obsessões e auto-obsessões surgem nesse cenário compondo a psicosfera de bairros e cidades, estados e países, continentes e mundos.
                Composta de aproximadamente 30 bilhões de almas, a população geral da Terra tem hoje um contingente de pouco mais de 1/6 de sua totalidade no corpo carnal. Considera-se que nessa extensa e vigorosa “teia de ondas”, mesmo esses 5/6 de criaturas fora da matéria têm como centro de interesses o planeta das provas e expiações terrenas, influindo, sobremaneira, na economia psíquica da humanidade em perfeito regime de troca, determinando mais do que imaginais os rumos coletivos e individuais na dignidade ou na leviandade de propósitos, na paz ou no conflito armado.
                Convém-nos, nesse contexto, em favor da reeducação de nossos potenciais, refletir com seriedade sobre um dos mais delicados temas da atualidade: a sexualidade.
                Naturalmente, a mentira avassalou esse campo sagrado das conquistas humanas com lastimável epidemia de imitação decorrente da massificação. A palavra mentira vem do latim e, entre vários significados, extraímos esse: inventar, imaginar. Sob expressiva influência da mídia eletrônica, o sexo em desalinho moral obteve requintes de inferioridade e desvalor através de truanescas invencionices do relaxamento moral. Depois da televisão, a grande rede mundial, a internet, propiciou ainda mais estímulos para a “devassidão a domicílio”, preeenchendo o vazio dos solitários de imagens degradantes de perversidade pela pornografia sem lindes éticos.
                Os costumes no lar, já que boa parcela dos educadores perdeu a noção de limite, avançam para uma derrocada nos hábitos a pretexto de modernização. Diante da beleza corporal, os pais, ao invés de ensinarem responsabilidade e pudor, quase sempre excitam a sensualidade precoce e a banalização. Porque se encontram também escravos de estereótipos de conduta, conquanto o desejo de não verem os filhos desorientados, amargam elevada soma de conflitos pessoais não solucionados que interferem na sua tarefa educacional junto à prole.
                Nesse clima social, os delitos do afeto e do sexo continuam fazendo vítimas e gerando dor. Telepatias deprimentes e conúbios mediúnicos exploradores formam o ambiente astral de várias localidades, expelindo energias entorpecedoras e hipnóticas, abalando o raciocínio e instigando os instintos animalescos aos quais, a maioria de nós, ainda nos encontramos jungidos.
                O desafio ético de usar o sexo com responsabilidade continua sendo superado por poucos que se dispõem ao sacrifício de vencer a si mesmo, dentro de um proposta de profundidade nos terrenos da alma.
                As forças das estimulações exteriores comprometem os propósitos sinceros mesmo daqueles que acalentam os ideais renovadores, exigindo do candidato à autotransformação um esforço hercúleo para colimar suas nobres metas.
                A força sexual é comparável a uma represa gigantesca que, para ter seu potencial utilizado paro o progresso, carece de uma usina controladora, a fim de drenar a água em proporções adequadas, evitando inundações e desastres de toda espécie nos domínios do seu curso. Se a energia criadora não for disciplinada pelas comportas da contenção, da fidelidade e do amor fraternal, dificilmente tal força da alma será dirigida para fins de crescimento e libertação.
                Nesses dias tormentosos, o sexo ganha apoio da mídia na criação de ilusões de espectros sombrios sob a análise ética-comportamental. A mentira do “amor sexual” condicionado à felicidade é uma hipnose coletiva na humanidade, gerando um lamentável desvio da saúde e alimentando as miragens da posse nas relações, fazendo com que os relacionamentos, carentes de segurança e da fonte viva da alegria, possam se chafurdar em provas dolorosas no campo do ciúme e da inveja, da dependência e do desrespeito, da infidelidade e da crueldade – algumas das veias de fuga pelas quais percorrem os encontros e desencontros entre casais e famílias.
                Face a isso, um “turbilhão energético” provido de vida e movimento permeia por toda a psicosfera do orbe. Qual se fosse uma serpente sedutora criada pelas emanações primitivas, resulta das atitudes perante a sexualidade entre todas as comunidades. Semelhante a um “enxame epidêmico e contagiante” , essas aglomerações fluídicas são absorvidas e alimentadas em regime de troca por todas esferas vivas do grande “ecossistema” da psicosfera terrena.
                A defesa da vida interior requer mais que contenção de impulsos. Muito além disso, faz-se urgente aprender o exercício do bem gerando novos reflexos através da consolidação de interesses elevados no reino do espírito. Decerto a disciplina dos instintos será necessária, mas somente o desenvolvimento de valores morais sólidos promover-nos-á a outros estágios de crescimento nas questões da sexualidade. A esse respeito compete-nos ponderar a postura  que adotamos ante a maior fonte de apelos da energia erótica, o corpo físico. Que  sentimentos e pensamentos devem nortear o cosmo mental na relação diária com o corpo? Como adquirir uma visão enobrecida sobre o instrumento carnal? Como “olhar” para o templo sagrado do corpo alheio e experimentar emoções enriquecedoras? Como impedir a rotina dos pensamentos que nos inclinam à vaidade e a lascívia ante os estímulos da estética corporal?
                Zelo e cuidados necessários com o templo físico em nada podem nos prejudicar, contudo o problema surge nos sentimentos que nos permitimos perante as atrações físicas. Esmagadora parcela das almas na carne adota atitudes pouco construtivas nesse tema. Além dos “elementos magnéticos irradiadores” com intensa força de impulsão. Quando acrescido da simples intenção de atrair e chamar a atenção para si, essa impulsão assemelha-se a filamentos sutis, similares a tentáculos aprisionantes expelidos pela criatura na direção daquele ou daqueles a quem deseja causar admiração, tornando-se uma “passarela de atrações” que lhe custará um ônus para a saúde e o equilíbrio emocional.
                Tudo se resume à lei universal da sintonia. Veremos o corpo conforme o que trazemos na intimidade. Sabemos, todavia, à luz da visão imortalista, que além do corpo carnal, a ele encontra-se integrado o ser espiritual, repleto de valores e vivências que transcendem os limites sensoriais da matéria. Aprender a identificar-nos com essa “essencialidade” é o caminho para a reeducação das tendências eróticas. Torna-se imprescindível vivermos o “estado de oração”, aprendendo a sondar o que existe para além do que os olhos podem divisar. Exupery afirmou: “o essencial é invisível aos olhos”, e quando V. Monod recomenda, na frase acima transcrita, que a prece seja o primeiro ato do dia, é porque estamos retomando o contato com o corpo após uma noite de emancipação. É o preparo para que consigamos elavar-nos acima das sensações e permitir a fluência dos sentimentos nobres, antes mesmo de ingressarmos no “vigoroso imã” da convivência pública. É o estado da mente alerta que vai nos ensejar “olhos de ver”.
                Aprender a captar a “essencialidade” do outro é perceber-lhe os eflúvios da alma, seus medos, suas dores, seus valores, suas vibrações e necessidades. É ir além do perceptível e “encontrar o mundo subjetivo” do próximo sentindo-lhe integralmente. O resultado será a sublimação de nossos sentimentos pela lei de correspondência vibracional, atraindo forças que vão conspirar a favor de nossos objetivos de ascensão.
                Assim como preparamos o corpo para o despertamento, igualmente devemos nos lançar ao preparo espiritual pare retornar as refregas do dia. A essa atitude chamamos de “interrupção do fluxo condicionado” da vida mental. É adentrar na “teia de correntes etéreas”, para não se contaminar ou ser sugestionado pela força atrativa desse mar de vibrações pestilenciais em ambientes coletivos.
                Esse “estado de oração” é a alma sintonizada com o melhor de todos, condição interior que requer, por enquanto, muita vigilância e oração de todos nós para ser atingida. Quem ora recolhe auxílio para os interesses elevados. Quem ora toma contato com o “Deus interno” ativando a “expansão” da consciência, desatando energias de alto poder construtivo e libertador sobre todos os corpos e na psicosfera ambiente. A vida conspira com os propósitos do bem, basta que nos devotemos a eles.
                Estabelecido esse estado interior de dignificação espiritual, o próximo passo é lançar-se ao esforço reeducativo na transformação dos hábitos. O tempo responderá com salutares benefícios interiores de paz, com o psiquismo livre de energias enfermiças da hipnose coletiva do despudor e da lascívia, tornando a mente acessível ao trânsito das inspirações e ideias saudáveis em clima de plenitude.
                Portanto, inscrevamo-nos nesse curso diário da oração preparatória tão logo despertos na carne. Faça seus cuidados fisiológicos paro o despertamento sensorial, após o que amplie os cuidados com o Espírito. A oração desperta forças ignoradas que serão farta fonte de manutenção do estado de paz que carecemos, ante a empreitada sobre o dinâmico mundo das percepções e dos estímulos.
                Somente dessa forma iluminaremos os nossos olhos para que tenhamos luz na visão do mundo que nos cerca, e segundo o Divino Condutor, “se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz”. (Mateus, 6:22.)

                Livro: Reforma Íntima Sem Martírio
Ermance Dufaux

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Cidadania Cósmica

“O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; (...)”
A Gênese Cap.XVIII  - ITEM  25


Cidadania é a prática da convivência social, respaldada na cooperação e na cumplicidade.
O ato da cidadania significa formar uma cosmovisão da vida, integrando-se no ecossistema planetário de forma construtiva e solidária. O princípio estrutural dessa cosmovisão é a natureza, interdependente do homem em sua trajetória evolutiva. Uma rede de processos e sistemas sustenta o dinamismo natural da evolução, no qual o homem receberá retorno conforme os resultados felizes ou infelizes na forma de interagir com esse “todo”.
Sob a ótica universal, a palavra sociedade tem seu conceito ampliado. Inicialmente ela é o contexto cultural no qual o espírito renasce corporalmente, conquanto saibamos ser impossível dissociar as sociedades intercontinentais e também a espiritual, pois formam um ecossistema universal.
Nesse ecossistema galáctico, ao findar do segundo milênio, a humanidade carnal contabilizava aproximadamente 6,5 bilhões de almas sob a tutela da reencarnação, enquanto os “censos” espirituais davam conta de24 bilhões de espíritos fora do corpo. Nesse cenário, de 30 bilhões de seres inteligentes compondo a população geral do planeta, algumas conjecturas otimistas levam-nos a calcular um contigente de espíritas em 1%. Esses dados servem-nos para aferir o que representa ser espírita em pleno século XXI, considerando alguns poucos milhões de criaturas adeptas das propostas doutrinárias, ou com alguma forma de contato com as obras elementares do Espiritismo.
Com esse tesouro incomensuravelmente valioso para a felicidade da Terra, temos de nos perguntar: qual será a nossa postura como cidadãos, perante a gama de tragédias e problemas sociais que afligem os continentes materialistas? Estamos fazendo brilhar a luz e assumindo o papel de “sal da terra”?
A reclusão dos pólos de produção espírita, no contexto das céleres mudanças no orbe, é algo que merece demorada atenção de quantos guardam poder de influência na opinião, ou daqueles que se interessam em promover um debate urgente sobre a participação efetiva do espírita nessa etapa, que o senhor Allan Kardec designou como período da renovação social.(10)
Torna-se imperativo estudar a questão da convivência dos centros espíritas com a sociedade. Observam-se, sem exageros, corações sofrendo por ausência de orientação espiritual, mas residindo ao lado das abençoadas agremiações de amor. O objetivo dos núcleos doutrinários deve ser a formação do homem de bem(11), através da participação consciente e responsável no progresso. O receio infundado ou mal conceituado de proselitismo tem incentivado um distanciamento das necessidades comunitárias. Essa omissão estabelece uma aura de pureza nos círculos de Espiritismo, com adoção de condutas puritanas, quando se espera autenticidade, alegria e melhoria de quem lhes freqüenta as frentes de serviço. Dessa forma, impede-se a possibilidade do diálogo participativo e realista, sobre as lutas pessoais nas experiências diárias, subtraindo o ensejo de conduzir as temáticas espíritas para uma contextualização.
O desenvolvimento de “projetos cidadãos” será excelente alternativa para que as células de Espiritismo promovam-se, da condição meritória de casas de caridade assistencialistas, para sociedades geradoras de responsabilidade social e integração libertadora. Não basta o estudo informativo. É imperioso levar essa cultura doutrinária ao patamar de transformação efetiva e promocional, atingindo o caráter de institutos de ética e cidadania à luz do espírito imortal.
O eminente educador Paulo Freire nos asseverou, em oportuno debate na vida espiritual, que “o desenvolvimento de projetos de convivência social, ou a ecologia social, deve ter como prioridade a educação moral “no” povo, porque essa é a educação que transforma e, da qual, todas as camadas sociais necessitam, contando ainda com a natural facilidade de não poder ser impedida por parte de nenhuma estrutura hegemônica ou conservadora. Essa educação apregoará uma cidadania centrada em deveres, mais do que em direitos, concitando o homem à tomada de uma nova postura social.”
Essa educação moral, mais que passar conteúdos espíritas, será a iniciativa de inserir a “pedagogia de projetos”, preparando a criança, o jovem, o adulto e o idoso ao desenvolvimento de habilidades afetivas, produtivas, cognitivas e espirituais, pertinentes à cosmovisão de vida que o Espiritismo nos proclama, integrando-nos na condição de seres universais proativos.
Precisamos aprender a florir onde formos plantados.
A pedagogia da assistência promocional é valorosa, porém, subjetiva e, nem sempre, educativa na sua atual configuração um tanto “conversionista”. Mais que difundir conceitos carecemos de desenvolver valores, laborar com as competências que brotam do intercâmbio natural, entre os centros e a comunidade, prezando, antes de tudo, a convivência, a parceria, banindo a reducionista expressão “assistência social”, substituindo-a por “responsabilidade social”, ou outra que melhor atenda a essa característica de cidadania. Urge deixar de conceber essa iniciativa dos Centros Espíritas como mera tarefa, passando a aplicá-la como um campo natural de interação renovadora, um pólo atrativo para engrandecimento de almas que se dispõem a gozar e confirmar a sua condição de cidadãos cósmicos.
Distanciemo-nos das miragens da presunção e da arrogância, as quais nos levam a acreditar em teses religiosas descabidas de conversão em massa. Nem o espírita nem o Espiritismo terão ingredientes suficientes para provocar a renovação social. Ao contrário, a sociedade é que decide, na sua sagrada condição de livre-arbítrio, o “instante Divino” de absorver a Verdade e buscá-la. Nesse momento, os conceitos imortais,  como assevera o codificador, vão secundar, isto é, vão coadjuvar esse processo, em razão de seu poder moralizador e de suas tendências progressistas. Compete, pois, aos que já se encontram na lides da espiritualização de si mesmos, o dever de abrir janelas para o mundo, atestando com seu exemplo o esplendor da mensagem rediviva do amor, em plena forma de viver como Cidadãos do Universo.
                                                                                        

Ermance Dufaux, Livro: Unidos pelo Amor - cap. 7 - 1ª parte


(10) Revista Espírita – dezembro de 1863 – Período de Luta.
(11) O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XVII, item 3.

domingo, 6 de novembro de 2011

A quem vamos seguir?




 
"E Pedro o seguiu de longe até o pátio do  sumo sacerdote e, entrando, assentou-se entre os criados, para ver o fim."
Mateus, 26:58



Em todos os tempos da humanidade, os cooperadores do bem e os missionários da vanguarda sempre contaram com retaguardas espirituais seguras para as tarefas que desempenharam, mesmo desconhecendo, muitas vezes, o amparo do qual eram alvos. Toda luz que se acende requer cuidados especiais na continuidade de sua expansão.
Uma escola e um hospital, assim como quaisquer instituições sociais do progresso, jamais se verão livres das lufadas cruéis do mal e da treva que tentam apagar-Ihes o brilho da bondade e do amor. É da Lei: os que avançam atraem para si quantos tentam entravar a ascensão. O objetivo é a multiplicação do bem através da cooperação sacrificial na renovação de almas.
Uma educadora alinhada ou um aluno promissor podem trazer, no âmago, o peso cruel da "lama psíquica" em que se encontravam antes do renascimento, ligando-se aos expoentes do desequilíbrio. Assim sendo, a escola educativa passa a funcionar como posto de orientação de almas em crescimento, atraindo o séqüito indisciplinado de desencarnados para dentro de suas portas.
Um médico carinhoso ou um paciente em convalescença podem carregar, na mente, os "monstros da insensatez e da loucura" em sintonia com os asseclas da impiedade e do ódio. Dessa forma, o lugar abençoado de recuperação torna­-se também um celeiro de amparo a corações desorientados, abrindo campo para a ação dos oponentes da Verdade que enxameiam nos seus corredores e dependências.
Em quaisquer rincões da Terra, nos dias da transição, existe sede e fome, tormenta e dor, esmolando mãos amigas e instrução correta em favor da libertação. Um encarnado representa as enfermidades ou as necessidades de uma multidão.
Nos bastidores imortais das tragédias e dramas da sociedade carnal, encontramos fatores causais ou influentes na ação organizada da maldade. As raízes do mal se alongam do visível para o invisível e vice-versa.
O avanço tecnológico, a explosão da cultura e a busca de Deus no século XX provocaram um desconforto nos abismos em forma de comoções ostensivas. Como se fosse um vulcão, a pressão exercida nas sombras expeliu para a superfície do orbe as larvas do desespero e da angústia, da maldade e da desobediência. A Ordem Divina é limpeza, regeneração, liberdade e paz.     .
Hoje, mais que nunca, o bem exige alicerces seguros e trincheiras eficazes. Essa a razão da oposição sistemática em relação aos esforços espíritas. Quaisquer projetos de elevação e consolo são alvos de atenções aguerridas dos adversários da luz. É nesse contexto que podemos entender o valor inestimável das trincheiras de amor, construídas no desinteresse e na forja da coragem. Entre os homens, equipes que se amam e respeitam. E, além da matéria, grupos socorristas que operem quais pólos produtivos de lídimo serviço cristão em favor da libertação de consciências.
Inúmeras atividades e metas espíritas têm sido boicotadas ou mantidas em retardo por faltarem esses círculos vibratórios de proteção. Sem retaguarda espiritual, até para manter um estudo do Evangelho no lar, será exigido da família a movimentação de forças incontáveis...
Os grupos mediúnicos funcionam, nessa hora grave de asseio da psicosfera, como salutares ungüentos cicatrizantes ou medidas preventivas em favor da evolução e da ordem.
A superação de parâmetros na aquisição de conhecimentos novos pode ser amealhada através da instauração de iniciativas experimentais. Os contributos morais da compaixão, do desejo de auxiliar e de aprender são as únicas linhas morais a serem conservadas nessa modalidade de aprendizado. Quanto ao mais, bom senso, ousadia, rompimento com padrões e muito diálogo serão os fios condutores de novos modelos de parceria entre mundos físico e espiritual.
Os grupos conscientes do momento pelo qual atravessamos, não se norteiem pelas convenções aceitáveis na coletividade doutrinária que, quase sempre, mostra-se indisposta a andar a segunda milha...  Trilhar vivências novas...
          O preconceito e a descrença alheia costumam arruinar muitos planos do bem!
          Jesus estabeleceu: "não vim ab-rogar a Lei, porém, cumpri-la”.
A maioria das práticas de intercâmbio se orienta pelos textos. Poucos ousam a investigação, a observação, a experimentação fraterna. O apego à letra é um rigoroso processo de engessamento relativamente a questões essencialmente subjetivas, portanto sem critérios definitivos de segurança. O estudo e a disciplina, conquanto imprescindíveis, não deveriam se converter em cadeados para a espontaneidade...
Sem produção de conhecimento novo sobre imortalidade, as práticas mediúnicas atolam em lamentável processo de estagnação, isto é, uma rotina de ação que estanca a mais preciosa qualidade dos médiuns e dos grupamentos: a criatividade - única habilidade capaz de ampliar os horizontes de análise sobre a profundidade das questões invisíveis que cercam a matéria palpável. Esse conhecimento novo, entretanto, depende da aquisição de vivências novas, sem as amarras do convencionalismo.
Uma questão credora de minuciosas reflexões aos companheiros de lide na vida física: que motivos estariam impedindo a formação de trincheiras corajosas nos serviços de intercâmbio para além dos padrões? Conquanto essa seja uma valorosa questão de debates de vós outros, na carne, deixaremos nossa colaboração, incondicionalmente aberta a críticas, embora nutrida de clareza.
Além da dogmatização, tal ordem de fatos na seara desemboca na formação moral do próprio grupo. Exigir-se-á uma convivência muito cristalina e rica de confiança para que se ergam pólos valorosos e destemidos de serviço com o Cristo nessa hora de transição.
Por sua vez, o paciente labor de tecer essas relações duradouras e autênticas na convivência pedirá algumas condições, costumeiramente desprezadas por variadas razões. Que conjunto doutrinário esculpirá um clima familiar de confiança e honestidade sem ombrear desafios em comum, além da própria tarefa mediúnica? Que comunidade conseguirá vencer os ardis da vida emocional sem aprender a dialogar em grupo sobre seus sentimentos, com isenção de melindres? Quais grupamentos conseguirão diluir seus papéis na equipe para agirem como parceiros de uma jornada, sem desapegarem de suas expressões de personalismo no dia-a­-dia do centro espírita? Quantos companheiros terão suficiente dignidade para colocarem suas dúvidas íntimas ou desconfiança em relação aos outros, sem recorrerem a terceiros, completamente fora do ambiente experimental em teste no seu grupo? Quantas iniciativas serão formuladas no clima da pureza de corações nas quais médiuns ou dirigentes, por mais experiência amealhada, disponham-se a "rasgarem" suas folhas de serviço e recriarem sempre o que aprenderam?
Imprescindível superar conceitos e barreiras culturais erguidas no valioso laboratório do intercâmbio intermundos. Todo saber acumulado deverá conduzir a novas sondagens com propósitos educativos. Assim como Allan Kardec lançou­-se na pesquisa honesta dos fenômenos, contrariando todas as opiniões a respeito de sua atitude, hoje, os aprendizes da mediunidade que almejam servir à causa do Cristo são convocados a imprescindíveis discussões.
Até onde a "cultura das convenções" que avassalou o psiquismo de inúmeros cooperadores na seara terá penetrado, igualmente, nesse campo sagrado da relação interdimensional? Os parâmetros estabelecidos como roteiros de segurança mediúnica não estarão, em verdade, constituindo fortes amarras ao progresso das práticas de intercâmbio? Que caminhos tomar para situar a tarefa mediúnica como laboratório educativo de almas, distante do dogmatismo? Como edificar grupos de servidores mais adequados aos imperativos da hora de transição? Como resgatar e como utilizar a espontaneidade? Que noções cristãs exarar sobre educação mediúnica? Quais seriam os critérios na seleção dos componentes de uma frente de serviços mediúnicos em tempos de transição?
Sem as trincheiras espirituais do amor, o mundo padecerá ainda mais as dores da transição. O Hospital Esperança, essa obra de amor erguida pelo Apóstolo da Benevolência, Eurípedes Barsanulfo, constitui um dos mais avançados núcleos de defesa, orientação e abrigo para a comunidade espírita mundial. O Espírito Verdade, prudente em Sua tarefa de amor, projetou medidas preventivas para os desafios no transporte da árvore do Evangelho para o Brasil. A "Obra de Eurípedes" é um exemplo vivo da Bondade Celeste em suas expressões de compaixão sem lindes, uma "trincheira" do amor em favor da paz mundial.
Importa-nos indagar: "a quem seguiremos?" Ao Cristo e a Sua proposta ou ao estreito pátio das formalidades que tanto atraem as almas tíbias e preguiçosas, interesseiras e vaidosas?
Pedro, no instante crucial de sua decisão, preferiu camuflar-se entre os criados, amargando terrível culpa pelo resto da existência. Seguir Jesus de longe é fruir o clima das facilidades, submisso à aprovação da coletividade. É gozar das concessões concedidas pelo Senhor, recebendo um talento sem a aplicação desejável.
Um "novo Tabor" apresenta-se aos lidadores da mediunidade. Nele transfiguram-se, além de infindáveis baluartes do mundo, gênios perversos. Desconheceram a erraticidade enquanto no corpo e agora anseiam por auxiliar a extinguir o estreito limite entre esferas de vida, cooperando com os planos do Mestre para o futuro da humanidade.
Artistas e expoentes da cultura, políticos e educadores, mulçumanos e evangélicos, índios e ecologistas, astrônomos e cientistas, poetas e escritores, economistas e pacificadores, todos eles têm procurado as tarefas interdimensionais sem serem ouvidos. Todos eles trabalham pela paz. Pelo Cristo. Imprescindível a abertura de mentes e conceitos. O Céu está mais próximo da Terra do que se imagina.
Paulo Freire e Tarsila do Amaral, Jacques Cousteau e Charles Darwin, Albert Schweitzer e Osho, Tancredo Neves e Joaquim Nabuco, Carlos Prestes e Rousseau, Sei Aurobindo e Elisabet D'Esperance, Einstein e Sigmund Freud, Jung e Pirre Janet. São alguns dos infinitos nomes de quantos estão recorrendo aos pólos protetores das reuniões mediúnicas de vanguarda para buscarem recurso e amparo para as obras que edificaram ou para aquelas que se tornaram tutores. Vivem todos eles nesse ecossistema intercontinental como artífices ativos dos tempos de regeneração, sob a tutela de almas nobres e mais elevadas, orientando-os na nova dimensão.
Além do Tabor, esse símbolo de abertura das trocas psíquicas, espera-nos os campeões do mal, mas, igualmente, os mais gloriosos expoentes do bem, com tesouros de alívio e incentivo à ingente caminhada dos homens.
Trabalhemos sem cessar pela formação desses postos avançados de ligação com a vida extrafísica e um magnífico horizonte se abrirá aos nossos olhos. Somente então perceberemos com mais clareza a exuberância da mediunidade e a interpretaremos como canal por onde flui a Excelsa Misericórdia em favor da Obra da Criação para o bem de todos.


Cícero dos Santos Pereira, de janeiro de 2005.
Livro Lírios de Esperança - Introdução



ESPIRITISMO COM ESPÍRITOS




 “Que se deve pensar da opinião dos que considerem profanação as comunicações com o além-túmulo?”
“Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente. A prova de que assim é tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.”
Questão 935 - Livro dos Espíritos

Em encontro fraterno com Ivone do Amaral Pereira, por aqui na erraticidade, tivemos a honra de ser portador de um carinhoso pedido seu para com a mediunidade. Assim, transcrevemos as palavras da inesquecível intérprete da célebre obra “Memórias de um Suicida”:

Um olhar minucioso na história será o bastante para constatarmos a razão dessa belíssima questão, formulada por Allan Kardec à sublime “Equipe Verdade”.

Em todas as épocas, a comunicação com os ”mortos” sofreu açoites e reproches por parte dos “gênios das trevas”, por uma única razão: a Verdade.

“As “furnas do mal” sabem que a única forma de dominar a humanidade terrena será manter o homem no materialismo, na ilusão, e, por esse motivo espúrio, consomem seus dias em planos nefandos objetivando ocultar a imortalidade. Desde as proibições no velho testamento até o momento presente, percebe-se claramente a infeliz intenção de empanar a inexistência da morte, mantendo os homens na ignorância.”

“A luz mediana do Espiritismo, porém, destruiu as frias lápides e descerrou os portais da vida espiritual, conclamando a humanidade a um novo e mais lúcido estágio: a Era do Espírito.”

“A história... Ah! A história... Mesmo dentro das fileiras do Consolador, os fatos nem sempre caminharam em identidade com esta Verdade. Foi preciso um futuro (o nosso presente hoje) para avaliarmos seus reflexos, suas conseqüências...”

O iniciar do século XX deflagrou uma farta fenomenologia nos rincões espíritas. Muita vez excedendo seus limites educativos, surgiram espetáculos e fantasias...”

“Logo a seguir, espíritas, conscientes e embasados no “guia dos médiuns e evocadores”, estimularam medidas cautelares para um exercício seguro e produtivo em razão dos abusos. O inesquecível Leopoldo Machado, um dos mais vivazes espíritas que a seara já teve o ensejo de conhecer, lançou um lema oportuníssimo: “Espiritismo de Vivos”, e trabalhou árdua e proficuamente nesse propósito: os jovens ganharam apoio integral e nasce uma nova etapa. As reuniões de intercâmbio com o além foram incentivadas a uma maior privacidade, além da que já possuíam; foi quando passamos a ler, com freqüência, as placas indicadoras “reuniões privativa” nos centros espíritas de todo o país, cujo nome mais adequado seria “reuniões isoladas”, em função de sua desfiguração junto ao complexo de atividades nas casas em que se efetuavam. Nenhum vínculo, praticamente, era estabelecido com o grupo carnal da nobres instituições; passavam-se às “ocultas” sem que ninguém soubesse das práticas ali exercidas, recordando os velhos templos iniciáticos do esoterismo. Adornavam a vaidade de alguns e, com isso, perdiam sua função magnânima de colocar os mortais em contato com sua pátria de origem...”

“Mais adiante, alguns companheiros mais contestadores fizeram apologia às reuniões totalmente públicas, com fito de romperem com os prejuízos dos ”ensinos secretos” que avassalaram vários grupos.”

“Concomitantemente, a riquíssima literatura mediúnica inundou os ambientes espíritas de reflexões e estudo, deixando mais claro ainda o quanto as forças psíquicas carecem de bases apropriadas, a fim de atingirem fins libertadores. Normas são expedidas sem muita profundidade de avaliação. Ocorreu uma mais acentuada “reclusão coletiva” na mediunidade, através de novas proibições. A psicografia pública, o receituário, as manifestações de benfeitores nos “cultos” no lar e outras tantas expressões de liberdade com responsabilidade, de medianeiros seguros, são tomadas como desajustes – o cerceamento foi insensato.”

“Levantaram-se bandeira que elencavam a “sofrível dependência dos Espíritos”, sendo que a insensatez apostou na solução de ignorá-los, para preservar os homens do engodo. A palavra mistificação e animismo tornaram-se as senhas dos artífices desta etapa. Tão grande receio foi incutido sobre essas temáticas, que muitos abandonaram o intercâmbio em razão de encontrarem-se fulminante obsessão, segundo suas precipitadas aferições pessoais. Jovens desejosos de integrar a escola das comunicações espirituais são afastados, com teorias psicológicas e teses sem fundamentação lógica. Assim, mais uma vez, a inferioridade humana, indevidamente, por despreparo para as “coisas santas”, adapta os excelsos ensinos das vozes do além-túmulo às conveniências pessoais da hora, passando de geração em geração os métodos e idéias que não foram cravejados pelo crivo do bom senso. O purismo doutrinário tornou-se um “ cânone intocável” e as seqüelas dessas medidas levadas a efeito pelos idos das décadas de 40 a 60 são visíveis até nos dias atuais.”

“Resumam os reflexos dessa cultura cerceadora: a instituição! Mais uma vez o institucionalismo! Dessa vez no que há de mais nobre e Divino: a mediunidade. Medidas disciplinares, que deveriam servir apenas como normas educativas, terminaram por institucionalizar o intercâmbio com os “mortos””.

“Instituíram-se costumes estranhos a uma prática mediúnica espontânea, saudável e livre. Temos uma “nova proibição”, um “novo golpe”, sutil, ardiloso, avalizado por um purismo que mais dogmatizou os celeiros espíritas que, propriamente, os auxiliou a manterem o Espiritismo “nos trilhos” como muitos, infelizmente, defendem. Saiu-se do extremo do abuso e entrou-se no extremo do medo. Medo de lidar com as questões da alma, e em razão desse medo dominante e quase coletivo, percebe-se o lamentável estágio de preciosismo mediúnico em nome de prudência!”

“A título de disciplina foram estabelecidos caminhos para banir a curiosidade, confinando, cada vez mais, o exercício mediúnico a lugares específicos e com ascendência ao socorro dos professores.”

”Fatos inconciliáveis com a lógica do pensamento Kardequiano foram formalizados como exemplo, médiuns que recebem “Espíritos de luz” e médiuns que recebem sofredores, dando a impressão que o psiquismo dos medianeiros tem compartimentos para fins específicos, não existindo a possibilidade dos contrários se definirem em uma só mente. São as invencionices, muito bem explicitada pelo codificador; sofismas que ao “soprados” pelas “falanges do estacionamento”, os “mentores intelectuais do retardo” e da inépcia.”

“Assim, boa parcela dos cooperadores espíritas não tem acesso aos horizontes da imortalidade, no que tange às suas atuais vivências. Estuda-se Espiritismo, pratica-se a caridade, respira-se o clima dos ambientes doutrinários, sem a sublime concessão de vislumbrar, pelos sagrados portais da mediunidade, a movimentação do plano espiritual em torno dos passos de quantos aderem e colaboram com a consoladora causa dos Espíritos...”

“É o Espiritismo sem Espíritos, longe da proposta dignificadora lançada pelo incomparável Leopoldo Machado, quando conclamou o seu “Espiritismo de Vivos”, porque em tempo algum ele desdenhou o contato com os Espíritos, chegando mesmo a enaltecer a bênção imerecida de suas companhias”.

“Sem quaisquer contrapontos ao grande idealista da mocidade espírita, elencamos para a hora que passa um novo lema: Espiritismo com Espíritos.”

“Nem dependência e acomodação, nem receio e preciosismo: parceria, eis a proposta.”

“Trabalho conjunto. Um engenho que funcione na interação entre homens e Espíritos, aproximando-nos nos serviços do bem e do amor.”

“Nem fenômeno irretorquível e comprovador como prioridade, nem, tampouco, a ausência de provas irrecusáveis da autenticidade mediúnica.”

“Que os centros espíritas abram suas portas espirituais para a vida exuberante do mundo espiritual, preparem seus médiuns ao desiderato. Evangelho no coração. Espiritismo no cérebro, o bem na ação, sem medo de titubear.”

“A prática mediúnica pode ser considerada como excelente termômetro dos recursos do centro espírita. A ampliação de sua feição operacional poderá atingir níveis de extraordinária e oportuna parceria, levando integrantes dos grupos doutrinários a valorosas conquistas de despertamento e conscientização nos rumos do crescimento íntimo.”

“A riqueza e utilidade dessas vivências entre dois mundos será aferida pelo desapego. Dizem os Espíritos que “À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais” (LE Q. 914). Portanto, quanto mais pudermos, ensejemos, aos freqüentadores e trabalhadores efetivos de nossas casas de amor, a bênção de experienciarem o que seja a ação dos desencarnados, permitindo-lhes entrever pelas “frestas medianímicas” qual é o modus oprandi, as ciladas, os resultados e as comoções existentes e defluentes da vinculação mental, em ambas as esferas da vida. Aprenderão, assim, a maior vigilância, os cuidados indispensáveis na conduta, terão maior amplitude de visão sobre sua reencarnação, reverão velhos amigos que partiram, estabelecerão conúbios gratificantes com benfeitores, terão a alegria de cooperar no bem dos credores de outras eras, e mais que tudo, passarão a analisar o mundo e os homens “ao longe e distintamente a todos”, como na inspirada fala de Jesus ao cego curado pelas Suas Augustas Mãos” (Marcos, 8: 22 a 26).

“O Espiritismo prático, a exemplo do sucedido com o ilustre codificador, ainda que palmilhado na seriedade e nobreza de intenções, não exclui o risco; e para não sofrer esse risco, muito co-idealistas têm cerceado o que de mais nobre pode existir na transposição entre dois mundos: a espontaneidade.”

“O risco da interação mediúnica constitui-se na própria experimentação. A cultura “assintencialista-socorrista” impede seus méritos e sucessos...”

“Instauremos o tempo da mediunidade consciente de lucidez moral e estado mental ativo, parceria, jamais propondo a paralisação ou mesmo suspensão temporária do intercâmbio mediúnico mas, sim, as reavaliações sinceras e benfazejas nos grupos em andamento, e, igualmente, um preparo nos grupos em formação.”

“Que fazer para resgatar o tempo da mediunidade livre com responsabilidade? Que caminhos devem perseguir as casas doutrinárias para adequarem-se à era do Espiritismo com Espíritos? Longe de “uniformidade das práticas”, advogada por corações bem intencionados mas ingênuos, convoquemos os grupamentos ao imperioso caminho de descobrirem suas “missões”. Cada conjunto tem sua tarefa, sua necessidade, sua possibilidade. A beleza da reunião de pessoas está em não ter a obrigatoriedade de ser igual, todavia, apenas deve ser. A diretriz é única: Evangelho e Espiritismo; quão bom será, no entanto, quando as agremiações, imbuídas de destemor, arrojarem-se a “talharem sua personalidade”, descobrindo, em parceria com vozes imortais, o que juntos podemos criar na obra do Pai!”.

“Adotemos os critérios que nortearam as pesquisas do Espiritismo nascente: seleção por afinidade, crença, bom senso, desejo sincero de aprender, seriedade e a “espontaneidade evocativa””.

“Temos em mãos, nos dois mundos, os instrumentos imprescindíveis para a realização plena do exercício seguro; falta, sobretudo a vós outros, a coragem e o discernimento...”

“Duas marcas não devem ser esquecidas no tempo: O Pentecostes e as irmãs Fox. A primeira foi a consagração das “línguas mediúnicas” chamando os povos daquele tempo em direção à imortalidade, e a segunda foi o clamor dos céus, depois da “época escura” da humanidade, conclamando a terra inteira a sondar as “fronteiras desconhecidas””.

“Até que a ciência inaugure a estrada da aceitação e implemente o “tempo social” dos Espíritos entre os Homens, continuemos marchando, paulatinamente, e sem cessar, nos rumos da vida fora da matéria, encontrando-nos, desde já, em plena reencarnação, com nossos entes queridos que já partiram , fazendo luzir em nossas vidas, por antecipação, a plenitude da imortalidade, conforme asseveram os “sábios luminares” na excelente indicativa: “Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente””.

UNIDOS PELO AMOR
Ética e Cidadania à Luz dos Fundamentos Espíritas
Wanderley S. de Oliveira
Pelos espíritos Ermance Dufaux e Cícero Pereira


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Fóruns de Debate



“Uma Sociedade, onde aqueles sentimentos se achassem partilhados por todos, onde os seus componentes se reunissem com o propósito de se instruírem pelos ensinos dos Espíritos e não na expectativa de presenciarem coisas mais ou menos interessantes, ou para fazer cada um que sua opinião prevaleça, seria não só viável, mas também indissolúvel. A dificuldade, ainda grande, de reunir crescido número de elementos homogêneos deste ponto de vista, nos leva a dizer que, no interesse dos estudos e por bem da causa mesma, as reuniões espíritas devem tender antes à multiplicação de pequenos grupos, do que à constituição de grandes aglomerações. Esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã”.
O Livro dos Médiuns
Cap. XXIX – item 334
Mudança é o que mais carece nossa seara nos dias de hoje. Mas, como exige esforço, preferimos adiar, e o tempo passa...
A começar pela nossa mudança interior, tudo aponta para uma necessária e urgente reformulação de caminhos, se quisermos alcançar metas mais eficazes em nossos serviços de espiritualização.
Mudança de métodos, mudança de conceitos, mudanças de modelos, mudança de mudança...
Sabemos que o homem é o fundamento básico de quaisquer mudanças. Nossa primeira medida, em um programa de resultados sazonados, será trabalhar com a mentalidade. Cuidar das questões problemáticas da nossa seara, apenas remediando efeitos indesejáveis, é o mesmo que extirpar uma praga ameaçadora dos galhos da árvore desvitalizada, sem fertilizá-la na raiz.
Os cursos e palestras acrescem discernimento, mas discernimento sem serviço reparador é tesouro guardado no cofre.
As conversas sadias ampliam a análise, mas se esta é derrotada pelo tempo, nada constrói de útil.
O livro é informação à disposição, mas se não materializamos seus informes na atitude, seguramente, servirá apenas como referência a citar.
Os congressos são encontros de efusivos estímulos e atualização, mas se distrairmos com seu caráter festivo, retornaremos aos nossos ambientes de labor resvalados na frustação.
As reuniões de estudos e os eventos de confraternização são iniciativas de esclarecimento e reciclagem de conhecimentos aos trabalhadores, mas como estão sendo ministrados esses conteúdos para aqueles que constituem as bases culturais de nosso movimento?
O intercâmbio mediúnico amplia horizontes para além de nossas percepções comuns, mas se não lhe absorvemos, no dia-a-dia, a essência, deixamos de cumprir nossa parcela de compromisso frente ao esforço dos desencarnados.
Portanto, os cursos, as conversas, o livro, os congressos, os estudos, os eventos e  a mediunidade são fontes  de conhecimento e permuta de valores renovadores da mentalidade, e quanto mais circularem com fidelidade à proposta do Espírito Verdade, mais contribuirão pela efetivação das transformações que urgem.
Por nossa vez, além do incentivo a todos esses instrumentos de iluminação, propugnamos pelas ações debatedoras, as quais ainda são escassas em nossos recintos. Os fóruns de debate permanente são uma estratégia de luz para nosso programa de reciclagem cultural e mudança mental. Uma cultura de debate honesto, límpido, salutar em questionamentos e destituído de preconceitos sectários é uma medicação oportuna às nossas degenerações no organismo da coletividade doutrinária.
O objetivo dos debates é a instauração de uma “massa” crítica, capaz de ocasionar rumos e referências novas através de iniciativas lúcidas e fraternas para o bem, e que se ajustam à lógica do pensamento espírita-cristão.
A essência pedagógica dos debates é, eminentemente, apropriada e atual ao momento cultural do homem moderno, já que fatores sócio-políticos, dentre eles a mídia, estimularam o nocivo contributo da paralisia mental, conduzindo o homem a joguete do materialismo.
Da mesma forma que a cultura em geral, nossas escolas doutrinárias espíritas foram contaminadas pela “sacralização de idéias” e pelo imobilismo. É imprescindível extirpar esse espírito dogmático e epidêmico...
Educar-se para pensar sob uma perspectiva espiritualizante é um desafio de rara oportunidade. Nosso pernicioso costume de colecionar certezas ainda é subproduto do dogmatismo milenar que nos acompanha, e debater é encetar dúvida naquilo que temos como certeza para que, a partir daí, tenhamos um novo coeficiente de visões e raciocínios que promoverão uma nova percepção do tema, tornando-o mais rico, útil, versátil. Mais significativo que colecionar respostas é aprender a investigar pedagogicamente, filosofar para crescer.
O exercício do debate promove a crítica, e essa, por sua vez, amplia os ângulos de enfoque que, sendo repensados, dificilmente ensejam conclusões apressadas e definitivas, ferindo de morte as opiniões herméticas e, muita vez, insensatas de encarnados ou desencarnados.
Nada pode ser intocável ou dogmatizado para quem realmente deseja aprender e oxigenar conceitos no aprofundamento da visão dinâmica da vida. Sobretudo a construção do saber espírita tende para a criação de perguntas, e não para a acomodação em respostas prontas. Somente corações livres por dentro não se apegam a respostas prontas, que funcionam como “distintivos de cultura” no reino da vaidade.
O princípio básico do debate é o de que, nada sendo perfeito, tudo pode ser melhorado para ter mais utilidade, permitindo aos debatedores expressarem-se com idéias mais arejadas frente ao relativismo universal, e mais apropriadas à sua segurança e necessidade individual.
O hábito enfermiço de criar padrões, teorias prontas, definições morais, estereótipos éticos são frutos dessa atitude dogmática esterilizante. Daí porque pensar e pensar, sempre revendo os assuntos sob óticas diversas, com respeito a todas as opiniões, será instrumento revitalizador da cultura espírita que refletirá novos horizontes e perspectivas.
Já não se trata apenas de trocas de idéias, mas também  de sentimentos nos debates, deve-se tomar alguns cuidados para que não resvale para o campo dos desequilíbrios. Sobretudo, o verdadeiro fórum de investigação é altamente educativo, por colocar os debatedores em contato com suas emoções, com os quais terão ensejo de se autoconhecer e laborar na disciplina da assertividade.
Por terem alcançados melhores noções e mais recursos no campo da experiência, nossa proposição de fóruns de debate é mais indicada aos dirigentes e lideranças, sem quaisquer contra-indicações a outros que logrem realizá-los dentro de padrões éticos aceitáveis pela civilidade. Carecemos urgentemente de incentivar essa iniciativa entre os formadores de opinião.
Muita vez, grupos desse estirpe se formam circunstancialmente pela afinidade e são levados a grandes realizações doutrinárias. Mas, porque não formá-los de modo organizado? Uma reunião permanente, regada em afeto e confiança hauridos  em noites de encontro fraterno, catalisando essas direções regionais, estaduais e, quem sabe, no futuro nacionais, a fim de discutir temas da atualidade, a interessante informação mediúnica recente, o livro inspirado que fora lançado, o evento fomentador de informes novos que foi partilhado pela maioria, a releitura de conceitos doutrinários, a atualização provida pelas pesquisas e descobertas científicas de fora do meio doutrinário  ou, quem sabe, o debate específico de uma matéria comum a nossas tarefas, como a mediunidade, a criança, a ciência...
Por essa razão as perguntas serão instrumentos de aprendizagem do ato de conhecer. Como adequar a didática dos centros espíritas para estarem em sintonia com os pilares da educação moderna? Que renovação deve ser aplicada à metodologia de ensino espírita para que se ajuste aos apelos do homem cibernético? Como as posturas éticas nos estudos doutrinários podem oferecer melhor o aprendizado? Como a dogmatização de conceitos afeta o progresso das idéias espíritas? Por quais razões não nos agrada ter nossas idéias criticadas? Qual a origem do hábito de dogmatizar? Como conciliar a homogeneidade proposta pelo codificador e a importância da diversidade? Por que a frase citada no item acima “(...) unirá homens por um único sentimento” não foi  escrita assim: “(...) unirá os homens por um único pensamento”? Por que Jesus não respondeu a pergunta de Pilatos? Com tantos livros escritos sobre Espiritismo, respondendo as mais variadas questões, por que criar fóruns de debates nos centros espíritas?
Mentalidades só serão mudadas a partir de ambientes propiciadores de segurança para trepidar nossas certezas. Certezas essas que são ancoradas, quase sempre, pelos nossos milenares sentimentos estruturados no orgulho, quais sejam o exclusivismo, a vaidade, a ganância, o personalismo de destaque.
É fundamental abalar nossas certezas de concepção e abrirmo-nos a análises imparciais, acerca de outras vertentes de conhecimento e informação sobre a diversidade dos assuntos da humanidade, criar pontes de saber entre a cultura espírita e os valores do saber acadêmico, científico e filosófico. Entre nós, nas salas de estudos espíritas, favorecer a dúvida, a consulta, o salutar hábito de discordar sem tornar-se antipático. Como nos é imprescindível aprender a discordar! Discordar com amor, eis o desafio. Discordar com embasamento, eis o dever.
Os fóruns de debate constituirão instrumentos amplamente oportunos ao aceleramento das mudanças tão propaladas, e, temos para nós que, acima de tudo, eles representam o verdadeiro espírito unificador do movimento, porque ali, além de partilharmos idéias e sentimentos, nascerá, espontaneamente, o desejo de comprometer-se com parcerias construtivas e solidárias de uma para outra casa, vindo a esboçar o movimento de união e aproximação espontânea pelo qual todos nos encontramos em trabalho.
Contudo, convenhamos, tudo isso só será possível de uma forma que muita vez costumamos esquecer: agindo. Comecemos e aprendamos fazendo.
Jesus foi o maior debatedor da humanidade. Embora muitos lhe acentuem depreciativamente o espírito pacífico e resignado, ele foi o revolucionário mais fraterno dos últimos dois mil anos.
No Sermão do Monte ele relativiza a lei e os profetas, dizendo “eu porém vos digo”
Com os fariseus debate sobre o tributo a César e exara a superioridade de Deus.
Com a multidão faz um discurso realista sobre a hipocrisia  de escribas e fariseus, debatendo a essencialidade do ser.
Jesus debate com a mulher serofinícia e comprova um dos maiores exemplos de fé do Evangelho.
O sábado, um dos mais intrigantes temas de debate da época, é questionado pelo Mestre com a força do exemplo.
Mas o debate que mais nos fascina é o de Jesus com Pilatos, no qual, para abalar as certezas do governante, o Senhor deixa a maioria de suas perguntas sem respostas, principalmente sobre a Verdade...
Cícero Pereira.
Texto extraído do livro Unidos pelo Amor.
Wanderley S. de Oliveira