“O homem bom do bom tesouro do
seu coração tira o bem, e o homem mau do mau tesouro do seu coração tira o mal,
porque da abundância do seu coração fala a boca.”
Lucas,
6:45
A palavra mal conduzida tem
causado danos irreparáveis em todos os
tempos.
As ciladas ardilosas do verbo têm
derrubado impérios e sido responsável por dores incontáveis na história humana.
Ainda hoje, analisando os
mecanismos da comunicação incrementada pela tecnologia, observamos que o homem
sofisticou a arte do “mal dizer” para consumar seus objetivos ante as
coletividades. Graças à nossa inferioridade moral, o manejo do verbo raramente
atende a objetivos libertadores, chafurdando-se em pântanos espirituais pelas
criações vibratórias que elabora.
A transformação de nossa bagagem
espiritual, dirigida a metas maiores, encontra na indisciplina verbal um de
seus mais envelhecidos hábitos a renovar.
Entre nós, seareiros espíritas,
nos nossos grêmios de trabalho, como não poderia deixar de ser, também
assinalamos os prejuízos lamentáveis do verbo invigilante, já que ainda não
rumamos de todo para atitudes enobrecedoras nas linhas da espiritualização. O
conhecido “disse-que-disse” tem sido explorado com astúcia em desfavor do
progresso da obra do Cristo, tornando-se instrumento de manejo com o qual
muitos adversários ferrenhos do bem e da Verdade, em ambos os planos da vida,
têm dilatado as labaredas crepitantes de ódio, desânimo, rancor, ressentimento
e melindre entre os servidores da nobre causa do Amor.
Se desejamos ser úteis ante o
fogo comburente das intrigas e mentiras, selecionamos nossas palavras, nosso
modo de falar, com quem falamos, para que falamos, onde falamos, como a exercer
um curso de educação verbal,
urgentemente necessário para a hora que vivemos.
Avoca-se agora em nossos
ambientes o “direito de resposta” como medida de transparência e resgate da
Verdade, e então são usados os recursos de difusão doutrinária para trocas
antifraternais e irônicas. Da nossa parte, embora guardemos os melhores
sentimentos pelos que assim procedem, constatamos que nesse quadro temos
algumas lideranças descuidadas da prática do Evangelho, enredadas em exudantes
halos vibratórios de “línguas espirituais inferiores”, carcereiras do verbo
inútil, em regime de servidão às “hordas do além” ou ainda aprisionadas a seus
próprios interesses particulares, que tornam veículos contumazes de noticiário
leviano e de defesas apaixonadas. E como se estivesse prestando honrosos serviços
à causa, pregam frases e chavões conhecidos entre nós, tão somente para
estigmatizar pessoas ou grupos que apenas cultivam idéias diversas às delas, e
que, somente por isso, não merecem, segundo suas concepções, a estima ou o
crédito de nossa Seara...
Em outros lances, a inveja e o
ciúme, excrementos do orgulho e do egoísmo, têm acitado a fala malsinada e
inspirado a hipocrisia de homens dominados pro frágil capacidade de ação nos
campo espirituais, que ainda não assumiram em definitivo o compromisso de se
superar ante as suas consciências. Encontra-se, nesse mecanismo de ferir e
difamar, a compensação emocional de que se vêem escravos, alegando estar
servindo à coletividade com informes pretensiosos e interesseiros, em autêntica
“manobra política”, atraindo para si os grupelhos de sua qualidade moral para
fortalecer sua ação e rebaixar quantos sejam alvos da sua mordacidade, já que,
quando sozinhos, no encontro consigo mesmos, sentem-se impotentes, frágeis e
lamentavelmente frustados...
Esses quadros emocionais são
velhos conhecidos de nossas experiências religiosas seculares, quando então não
diligenciamos pela sendas da autenticidade, envergando responsabilidades
sacerdotais sagradas, e fenecemos em nossos deveres, nascendo os c omplexos culposos que se fortaleceram,
mantidos pela falsidade das atitudes, frente às autoridades que dizíamos
servir. Hoje, repetindo a mesma ação, tomados por um sentimento de falsidade
não superado, agredimos os outros, neles depreciando aquilo que, em verdade,
temos em abundância no coração.
Se realmente desejamos fazer algo
frente a tudo isso, convenhamos que o primeiro e mais significativo passo será
aprender a ouvir sem sentenciar juízos imediatos, para não macular-nos com a
precipitação.
Três são as origens das mais comuns
ciladas verbais: a má comunicação, a
presença de influência espiritual e os problemas emocionais, os quais levam
a boca a falar daquilo que está cheio o coração. Esse último item deve ser o
centro de nossas reflexões, por que aí reside a maioria expressiva das nossas
problemáticas da fala.
Portanto, ao verificarmos esses
quadros de leviandade nos lábios invigilantes, apenas ouçamos, façamos nossa
avaliação e retiramos a parte boa, se ela existir, ou, quando não, enveredamos
pelo caminho da indulgência para iluminar o verbo enfermiço.
Ninguém há, por mais descuidado
ou infeliz em sua ação, que mereça o nosso desprezo, nosso sectarismo pertinaz
manifestado em emoções que chegam ao asco ou à descriminação.
Todos somos irmãos e, muita vez,
nós que não conseguimos, por agora, compreender as suas atitudes e realizações,
amanhã veremos que estão a serviço da Divina Providência, na edificação de
alternativas que ainda não conseguimos entender, ou ainda, são irmãos menos
experientes na sedimentação dos valores evangélicos em suas atitudes, portanto,
credores sim da nossa caridade.
Independente disso, tenhamos
sempre o verbo amigo a quem quer que seja. Coloquemos o nosso próximo acima da
própria doutrina que tanto amamos, pois que nos servirá amar a causa e desprezar
o próximo? De que nos valerá defender a pureza de nossos princípios e diminuir
os valores de pessoas que, muita vez, servem a Deus por caminhos que
desconhecemos ou não entendemos até então?
Fraternidade hoje e sempre, com
quem quer que seja, e quando verificarmos alguém se fazendo portador de “juízos
inquisitoriais”, incluamo-lo em nossas preces e chamemo-lo, se pudermos,
carinhosamente, para a vigilância esclarecida a fim de que se liberte das
ciladas verbais.
Não percamos nosso respeito e
consideração por ninguém, principalmente pelos que aprendemos a respeitar no
trabalho honesto da doutrina, e que, comumente, são o alvo preferido para as
mentiras mais ardilosas da treva, as quais
lhes tentam empanar as claridades
por eles esparramadas nos gloriosos caminhos de sua existência. E ainda que
esses sejam vítimas de enganos ou obsessão, inertenemo-los na clínica de nossas preces e estendamos as
mãos para que, quanto antes, possam retornar à luz.
Amigos da caminhada espiritual!
Todos somos ajudantes da última
hora. Por mais devotemos ao labor, ainda será parco o nosso óbolo.
Contribuamos, cada qual, com o
que pudermos, porque todos, sem exceção,
estamos no aprendizado que iniciamos há milênios.
Nenhum de nós detém virtude ou
credencial que nos confira determinar os caminhos alheios, quando se trate da
obra que o Senhor está erguendo.
Deus, em sua complacência,
aceita-nos a todos como somos; por que então seríamos nós a decretar juízos
excludentes e infamantes, com “penas purgatoriais” a nosso confrade de jornada que obra por outras veredas, ou se
encontra penalizado por provas que talvez não suportaríamos?
Se temos discernimento, convicção
e fundamentos que nos permitam avaliar com
acerto os desatinos alheios, façamos uso de nossas qualidades para a tarefa
do amor. Enxergar para pisotear é marca dos bárbaros...
Vigiemos nosso verbo procurando
sempre as melhores conotações acerca dos outros e, se não conseguirmos erigir
uma poesia de louvor ou respeito, guardemo-nos no silêncio construtivo.
Trabalhar pela melhoria de nossas
palavras e da nossa comunicação é uma campanha de incomparável valor, a bem das
nossas frentes doutrinárias.
O fascínio pelo fanatismo e
mórbido, que tanto ainda nos atrai, deverá ir sendo substituído, o quanto
antes, pelos preceitos redentores do Evangelho em nossos corações, a fim de que
nossa boca destaque sempre o lado Divino que há em tudo e em todos,
pronunciando ao mundo aquilo de que deve estar cheio o nosso coração.
Cícero
Pereira.
Série: Atitudes de Amor
Livro: Unidos pelo Amor - cap. 17 – 2ª parte
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