domingo, 6 de novembro de 2011

Fóruns de Debate



“Uma Sociedade, onde aqueles sentimentos se achassem partilhados por todos, onde os seus componentes se reunissem com o propósito de se instruírem pelos ensinos dos Espíritos e não na expectativa de presenciarem coisas mais ou menos interessantes, ou para fazer cada um que sua opinião prevaleça, seria não só viável, mas também indissolúvel. A dificuldade, ainda grande, de reunir crescido número de elementos homogêneos deste ponto de vista, nos leva a dizer que, no interesse dos estudos e por bem da causa mesma, as reuniões espíritas devem tender antes à multiplicação de pequenos grupos, do que à constituição de grandes aglomerações. Esses grupos, correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e unirá os homens por um único sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã”.
O Livro dos Médiuns
Cap. XXIX – item 334
Mudança é o que mais carece nossa seara nos dias de hoje. Mas, como exige esforço, preferimos adiar, e o tempo passa...
A começar pela nossa mudança interior, tudo aponta para uma necessária e urgente reformulação de caminhos, se quisermos alcançar metas mais eficazes em nossos serviços de espiritualização.
Mudança de métodos, mudança de conceitos, mudanças de modelos, mudança de mudança...
Sabemos que o homem é o fundamento básico de quaisquer mudanças. Nossa primeira medida, em um programa de resultados sazonados, será trabalhar com a mentalidade. Cuidar das questões problemáticas da nossa seara, apenas remediando efeitos indesejáveis, é o mesmo que extirpar uma praga ameaçadora dos galhos da árvore desvitalizada, sem fertilizá-la na raiz.
Os cursos e palestras acrescem discernimento, mas discernimento sem serviço reparador é tesouro guardado no cofre.
As conversas sadias ampliam a análise, mas se esta é derrotada pelo tempo, nada constrói de útil.
O livro é informação à disposição, mas se não materializamos seus informes na atitude, seguramente, servirá apenas como referência a citar.
Os congressos são encontros de efusivos estímulos e atualização, mas se distrairmos com seu caráter festivo, retornaremos aos nossos ambientes de labor resvalados na frustação.
As reuniões de estudos e os eventos de confraternização são iniciativas de esclarecimento e reciclagem de conhecimentos aos trabalhadores, mas como estão sendo ministrados esses conteúdos para aqueles que constituem as bases culturais de nosso movimento?
O intercâmbio mediúnico amplia horizontes para além de nossas percepções comuns, mas se não lhe absorvemos, no dia-a-dia, a essência, deixamos de cumprir nossa parcela de compromisso frente ao esforço dos desencarnados.
Portanto, os cursos, as conversas, o livro, os congressos, os estudos, os eventos e  a mediunidade são fontes  de conhecimento e permuta de valores renovadores da mentalidade, e quanto mais circularem com fidelidade à proposta do Espírito Verdade, mais contribuirão pela efetivação das transformações que urgem.
Por nossa vez, além do incentivo a todos esses instrumentos de iluminação, propugnamos pelas ações debatedoras, as quais ainda são escassas em nossos recintos. Os fóruns de debate permanente são uma estratégia de luz para nosso programa de reciclagem cultural e mudança mental. Uma cultura de debate honesto, límpido, salutar em questionamentos e destituído de preconceitos sectários é uma medicação oportuna às nossas degenerações no organismo da coletividade doutrinária.
O objetivo dos debates é a instauração de uma “massa” crítica, capaz de ocasionar rumos e referências novas através de iniciativas lúcidas e fraternas para o bem, e que se ajustam à lógica do pensamento espírita-cristão.
A essência pedagógica dos debates é, eminentemente, apropriada e atual ao momento cultural do homem moderno, já que fatores sócio-políticos, dentre eles a mídia, estimularam o nocivo contributo da paralisia mental, conduzindo o homem a joguete do materialismo.
Da mesma forma que a cultura em geral, nossas escolas doutrinárias espíritas foram contaminadas pela “sacralização de idéias” e pelo imobilismo. É imprescindível extirpar esse espírito dogmático e epidêmico...
Educar-se para pensar sob uma perspectiva espiritualizante é um desafio de rara oportunidade. Nosso pernicioso costume de colecionar certezas ainda é subproduto do dogmatismo milenar que nos acompanha, e debater é encetar dúvida naquilo que temos como certeza para que, a partir daí, tenhamos um novo coeficiente de visões e raciocínios que promoverão uma nova percepção do tema, tornando-o mais rico, útil, versátil. Mais significativo que colecionar respostas é aprender a investigar pedagogicamente, filosofar para crescer.
O exercício do debate promove a crítica, e essa, por sua vez, amplia os ângulos de enfoque que, sendo repensados, dificilmente ensejam conclusões apressadas e definitivas, ferindo de morte as opiniões herméticas e, muita vez, insensatas de encarnados ou desencarnados.
Nada pode ser intocável ou dogmatizado para quem realmente deseja aprender e oxigenar conceitos no aprofundamento da visão dinâmica da vida. Sobretudo a construção do saber espírita tende para a criação de perguntas, e não para a acomodação em respostas prontas. Somente corações livres por dentro não se apegam a respostas prontas, que funcionam como “distintivos de cultura” no reino da vaidade.
O princípio básico do debate é o de que, nada sendo perfeito, tudo pode ser melhorado para ter mais utilidade, permitindo aos debatedores expressarem-se com idéias mais arejadas frente ao relativismo universal, e mais apropriadas à sua segurança e necessidade individual.
O hábito enfermiço de criar padrões, teorias prontas, definições morais, estereótipos éticos são frutos dessa atitude dogmática esterilizante. Daí porque pensar e pensar, sempre revendo os assuntos sob óticas diversas, com respeito a todas as opiniões, será instrumento revitalizador da cultura espírita que refletirá novos horizontes e perspectivas.
Já não se trata apenas de trocas de idéias, mas também  de sentimentos nos debates, deve-se tomar alguns cuidados para que não resvale para o campo dos desequilíbrios. Sobretudo, o verdadeiro fórum de investigação é altamente educativo, por colocar os debatedores em contato com suas emoções, com os quais terão ensejo de se autoconhecer e laborar na disciplina da assertividade.
Por terem alcançados melhores noções e mais recursos no campo da experiência, nossa proposição de fóruns de debate é mais indicada aos dirigentes e lideranças, sem quaisquer contra-indicações a outros que logrem realizá-los dentro de padrões éticos aceitáveis pela civilidade. Carecemos urgentemente de incentivar essa iniciativa entre os formadores de opinião.
Muita vez, grupos desse estirpe se formam circunstancialmente pela afinidade e são levados a grandes realizações doutrinárias. Mas, porque não formá-los de modo organizado? Uma reunião permanente, regada em afeto e confiança hauridos  em noites de encontro fraterno, catalisando essas direções regionais, estaduais e, quem sabe, no futuro nacionais, a fim de discutir temas da atualidade, a interessante informação mediúnica recente, o livro inspirado que fora lançado, o evento fomentador de informes novos que foi partilhado pela maioria, a releitura de conceitos doutrinários, a atualização provida pelas pesquisas e descobertas científicas de fora do meio doutrinário  ou, quem sabe, o debate específico de uma matéria comum a nossas tarefas, como a mediunidade, a criança, a ciência...
Por essa razão as perguntas serão instrumentos de aprendizagem do ato de conhecer. Como adequar a didática dos centros espíritas para estarem em sintonia com os pilares da educação moderna? Que renovação deve ser aplicada à metodologia de ensino espírita para que se ajuste aos apelos do homem cibernético? Como as posturas éticas nos estudos doutrinários podem oferecer melhor o aprendizado? Como a dogmatização de conceitos afeta o progresso das idéias espíritas? Por quais razões não nos agrada ter nossas idéias criticadas? Qual a origem do hábito de dogmatizar? Como conciliar a homogeneidade proposta pelo codificador e a importância da diversidade? Por que a frase citada no item acima “(...) unirá homens por um único sentimento” não foi  escrita assim: “(...) unirá os homens por um único pensamento”? Por que Jesus não respondeu a pergunta de Pilatos? Com tantos livros escritos sobre Espiritismo, respondendo as mais variadas questões, por que criar fóruns de debates nos centros espíritas?
Mentalidades só serão mudadas a partir de ambientes propiciadores de segurança para trepidar nossas certezas. Certezas essas que são ancoradas, quase sempre, pelos nossos milenares sentimentos estruturados no orgulho, quais sejam o exclusivismo, a vaidade, a ganância, o personalismo de destaque.
É fundamental abalar nossas certezas de concepção e abrirmo-nos a análises imparciais, acerca de outras vertentes de conhecimento e informação sobre a diversidade dos assuntos da humanidade, criar pontes de saber entre a cultura espírita e os valores do saber acadêmico, científico e filosófico. Entre nós, nas salas de estudos espíritas, favorecer a dúvida, a consulta, o salutar hábito de discordar sem tornar-se antipático. Como nos é imprescindível aprender a discordar! Discordar com amor, eis o desafio. Discordar com embasamento, eis o dever.
Os fóruns de debate constituirão instrumentos amplamente oportunos ao aceleramento das mudanças tão propaladas, e, temos para nós que, acima de tudo, eles representam o verdadeiro espírito unificador do movimento, porque ali, além de partilharmos idéias e sentimentos, nascerá, espontaneamente, o desejo de comprometer-se com parcerias construtivas e solidárias de uma para outra casa, vindo a esboçar o movimento de união e aproximação espontânea pelo qual todos nos encontramos em trabalho.
Contudo, convenhamos, tudo isso só será possível de uma forma que muita vez costumamos esquecer: agindo. Comecemos e aprendamos fazendo.
Jesus foi o maior debatedor da humanidade. Embora muitos lhe acentuem depreciativamente o espírito pacífico e resignado, ele foi o revolucionário mais fraterno dos últimos dois mil anos.
No Sermão do Monte ele relativiza a lei e os profetas, dizendo “eu porém vos digo”
Com os fariseus debate sobre o tributo a César e exara a superioridade de Deus.
Com a multidão faz um discurso realista sobre a hipocrisia  de escribas e fariseus, debatendo a essencialidade do ser.
Jesus debate com a mulher serofinícia e comprova um dos maiores exemplos de fé do Evangelho.
O sábado, um dos mais intrigantes temas de debate da época, é questionado pelo Mestre com a força do exemplo.
Mas o debate que mais nos fascina é o de Jesus com Pilatos, no qual, para abalar as certezas do governante, o Senhor deixa a maioria de suas perguntas sem respostas, principalmente sobre a Verdade...
Cícero Pereira.
Texto extraído do livro Unidos pelo Amor.
Wanderley S. de Oliveira

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