“Que se deve pensar da opinião
dos que considerem profanação as comunicações com o além-túmulo?”
“Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a
evocação seja praticada respeitosa e convenientemente. A prova de que assim é
tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer
ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se
comunicarem convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.”
Questão 935 - Livro dos Espíritos
Em encontro fraterno com Ivone do Amaral Pereira, por aqui
na erraticidade, tivemos a honra de ser portador de um carinhoso pedido seu
para com a mediunidade. Assim, transcrevemos as palavras da inesquecível
intérprete da célebre obra “Memórias de um Suicida”:
Um olhar minucioso na história será o bastante para
constatarmos a razão dessa belíssima questão, formulada por Allan Kardec à
sublime “Equipe Verdade”.
Em todas as épocas, a comunicação com os ”mortos” sofreu
açoites e reproches por parte dos “gênios das trevas”, por uma única razão: a Verdade.
“As “furnas do mal” sabem que a única forma de dominar a
humanidade terrena será manter o homem no materialismo, na ilusão, e, por esse
motivo espúrio, consomem seus dias em planos nefandos objetivando ocultar a
imortalidade. Desde as proibições no velho testamento até o momento presente,
percebe-se claramente a infeliz intenção de empanar a inexistência da morte,
mantendo os homens na ignorância.”
“A luz mediana do Espiritismo, porém, destruiu as frias
lápides e descerrou os portais da vida espiritual, conclamando a humanidade a
um novo e mais lúcido estágio: a Era do Espírito.”
“A história... Ah! A história... Mesmo dentro das fileiras
do Consolador, os fatos nem sempre caminharam em identidade com esta Verdade.
Foi preciso um futuro (o nosso presente hoje) para avaliarmos seus reflexos,
suas conseqüências...”
O iniciar do século XX deflagrou uma farta fenomenologia nos
rincões espíritas. Muita vez excedendo seus limites educativos, surgiram
espetáculos e fantasias...”
“Logo a seguir, espíritas, conscientes e embasados no “guia
dos médiuns e evocadores”, estimularam medidas cautelares para um exercício
seguro e produtivo em razão dos abusos. O inesquecível Leopoldo Machado, um dos
mais vivazes espíritas que a seara já teve o ensejo de conhecer, lançou um lema
oportuníssimo: “Espiritismo de Vivos”, e trabalhou árdua e proficuamente nesse
propósito: os jovens ganharam apoio integral e nasce uma nova etapa. As
reuniões de intercâmbio com o além foram incentivadas a uma maior privacidade, além
da que já possuíam; foi quando passamos a ler, com freqüência, as placas
indicadoras “reuniões privativa” nos centros espíritas de todo o país, cujo
nome mais adequado seria “reuniões isoladas”, em função de sua desfiguração
junto ao complexo de atividades nas casas em que se efetuavam. Nenhum vínculo,
praticamente, era estabelecido com o grupo carnal da nobres instituições;
passavam-se às “ocultas” sem que ninguém soubesse das práticas ali exercidas,
recordando os velhos templos iniciáticos do esoterismo. Adornavam a vaidade de
alguns e, com isso, perdiam sua função magnânima de colocar os mortais em
contato com sua pátria de origem...”
“Mais adiante, alguns companheiros mais contestadores
fizeram apologia às reuniões totalmente públicas, com fito de romperem com os
prejuízos dos ”ensinos secretos” que avassalaram vários grupos.”
“Concomitantemente, a riquíssima literatura mediúnica
inundou os ambientes espíritas de reflexões e estudo, deixando mais claro ainda
o quanto as forças psíquicas carecem de bases apropriadas, a fim de atingirem
fins libertadores. Normas são expedidas sem muita profundidade de avaliação.
Ocorreu uma mais acentuada “reclusão coletiva” na mediunidade, através de novas
proibições. A psicografia pública, o receituário, as manifestações de
benfeitores nos “cultos” no lar e outras tantas expressões de liberdade com
responsabilidade, de medianeiros seguros, são tomadas como desajustes – o
cerceamento foi insensato.”
“Levantaram-se bandeira que elencavam a “sofrível
dependência dos Espíritos”, sendo que a insensatez apostou na solução de
ignorá-los, para preservar os homens do engodo. A palavra mistificação e
animismo tornaram-se as senhas dos artífices desta etapa. Tão grande receio foi
incutido sobre essas temáticas, que muitos abandonaram o intercâmbio em razão
de encontrarem-se fulminante obsessão, segundo suas precipitadas aferições
pessoais. Jovens desejosos de integrar a escola das comunicações espirituais
são afastados, com teorias psicológicas e teses sem fundamentação lógica.
Assim, mais uma vez, a inferioridade humana, indevidamente, por despreparo para
as “coisas santas”, adapta os excelsos ensinos das vozes do além-túmulo às
conveniências pessoais da hora, passando de geração em geração os métodos e
idéias que não foram cravejados pelo crivo do bom senso. O purismo doutrinário
tornou-se um “ cânone intocável” e as seqüelas dessas medidas levadas a efeito
pelos idos das décadas de 40 a
60 são visíveis até nos dias atuais.”
“Resumam os reflexos dessa cultura cerceadora: a
instituição! Mais uma vez o institucionalismo! Dessa vez no que há de mais
nobre e Divino: a mediunidade. Medidas disciplinares, que deveriam servir
apenas como normas educativas, terminaram por institucionalizar o intercâmbio
com os “mortos””.
“Instituíram-se costumes estranhos a uma prática mediúnica
espontânea, saudável e livre. Temos uma “nova proibição”, um “novo golpe”,
sutil, ardiloso, avalizado por um purismo que mais dogmatizou os celeiros
espíritas que, propriamente, os auxiliou a manterem o Espiritismo “nos trilhos”
como muitos, infelizmente, defendem. Saiu-se do extremo do abuso e entrou-se no
extremo do medo. Medo de lidar com as questões da alma, e em razão desse medo
dominante e quase coletivo, percebe-se o lamentável estágio de preciosismo
mediúnico em nome de prudência!”
“A título de disciplina foram estabelecidos caminhos para
banir a curiosidade, confinando, cada vez mais, o exercício mediúnico a lugares
específicos e com ascendência ao socorro dos professores.”
”Fatos inconciliáveis com a lógica do pensamento Kardequiano
foram formalizados como exemplo, médiuns que recebem “Espíritos de luz” e
médiuns que recebem sofredores, dando a impressão que o psiquismo dos
medianeiros tem compartimentos para fins específicos, não existindo a
possibilidade dos contrários se definirem em uma só mente. São as
invencionices, muito bem explicitada pelo codificador; sofismas que ao “soprados”
pelas “falanges do estacionamento”, os “mentores intelectuais do retardo” e da
inépcia.”
“Assim, boa parcela dos cooperadores espíritas não tem
acesso aos horizontes da imortalidade, no que tange às suas atuais vivências.
Estuda-se Espiritismo, pratica-se a caridade, respira-se o clima dos ambientes
doutrinários, sem a sublime concessão de vislumbrar, pelos sagrados portais da
mediunidade, a movimentação do plano espiritual em torno dos passos de quantos
aderem e colaboram com a consoladora causa dos Espíritos...”
“É o Espiritismo sem Espíritos, longe da proposta
dignificadora lançada pelo incomparável Leopoldo Machado, quando conclamou o
seu “Espiritismo de Vivos”, porque em tempo algum ele desdenhou o contato com
os Espíritos, chegando mesmo a enaltecer a bênção imerecida de suas companhias”.
“Sem quaisquer contrapontos ao grande idealista da mocidade
espírita, elencamos para a hora que passa um novo lema: Espiritismo com
Espíritos.”
“Nem dependência e acomodação, nem receio e preciosismo:
parceria, eis a proposta.”
“Trabalho conjunto. Um engenho que funcione na interação
entre homens e Espíritos, aproximando-nos nos serviços do bem e do amor.”
“Nem fenômeno irretorquível e comprovador como prioridade,
nem, tampouco, a ausência de provas irrecusáveis da autenticidade mediúnica.”
“Que os centros espíritas abram suas portas espirituais para
a vida exuberante do mundo espiritual, preparem seus médiuns ao desiderato. Evangelho
no coração. Espiritismo no cérebro, o bem na ação, sem medo de titubear.”
“A prática mediúnica pode ser considerada como excelente
termômetro dos recursos do centro espírita. A ampliação de sua feição operacional
poderá atingir níveis de extraordinária e oportuna parceria, levando
integrantes dos grupos doutrinários a valorosas conquistas de despertamento e
conscientização nos rumos do crescimento íntimo.”
“A riqueza e utilidade dessas vivências entre dois mundos
será aferida pelo desapego. Dizem os Espíritos que “À medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos
valor dão às coisas materiais” (LE Q. 914). Portanto, quanto mais pudermos,
ensejemos, aos freqüentadores e trabalhadores efetivos de nossas casas de amor,
a bênção de experienciarem o que seja a ação dos desencarnados, permitindo-lhes
entrever pelas “frestas medianímicas” qual é o modus oprandi, as ciladas, os resultados e as comoções existentes e
defluentes da vinculação mental, em ambas as esferas da vida. Aprenderão,
assim, a maior vigilância, os cuidados indispensáveis na conduta, terão maior
amplitude de visão sobre sua reencarnação, reverão velhos amigos que partiram,
estabelecerão conúbios gratificantes com benfeitores, terão a alegria de
cooperar no bem dos credores de outras eras, e mais que tudo, passarão a analisar
o mundo e os homens “ao longe e distintamente a todos”, como na inspirada fala
de Jesus ao cego curado pelas Suas Augustas Mãos” (Marcos, 8: 22 a 26).
“O Espiritismo prático, a exemplo do sucedido com o ilustre
codificador, ainda que palmilhado na seriedade e nobreza de intenções, não
exclui o risco; e para não sofrer esse risco, muito co-idealistas têm cerceado
o que de mais nobre pode existir na transposição entre dois mundos: a espontaneidade.”
“O risco da interação mediúnica constitui-se na própria
experimentação. A cultura “assintencialista-socorrista” impede seus méritos e
sucessos...”
“Instauremos o tempo da mediunidade consciente de lucidez
moral e estado mental ativo, parceria, jamais propondo a paralisação ou mesmo
suspensão temporária do intercâmbio mediúnico mas, sim, as reavaliações
sinceras e benfazejas nos grupos em andamento, e, igualmente, um preparo nos
grupos em formação.”
“Que fazer para resgatar o tempo da mediunidade livre com
responsabilidade? Que caminhos devem perseguir as casas doutrinárias para
adequarem-se à era do Espiritismo com Espíritos? Longe de “uniformidade das
práticas”, advogada por corações bem intencionados mas ingênuos, convoquemos os
grupamentos ao imperioso caminho de descobrirem suas “missões”. Cada conjunto
tem sua tarefa, sua necessidade, sua possibilidade. A beleza da reunião de
pessoas está em não ter a obrigatoriedade de ser igual, todavia, apenas deve
ser. A diretriz é única: Evangelho e Espiritismo; quão bom será, no entanto,
quando as agremiações, imbuídas de destemor, arrojarem-se a “talharem sua
personalidade”, descobrindo, em parceria com vozes imortais, o que juntos
podemos criar na obra do Pai!”.
“Adotemos os critérios que nortearam as pesquisas do Espiritismo
nascente: seleção por afinidade, crença, bom senso, desejo sincero de aprender,
seriedade e a “espontaneidade evocativa””.
“Temos em mãos, nos dois mundos, os instrumentos
imprescindíveis para a realização plena do exercício seguro; falta, sobretudo a
vós outros, a coragem e o discernimento...”
“Duas marcas não devem ser esquecidas no tempo: O
Pentecostes e as irmãs Fox. A primeira foi a consagração das “línguas
mediúnicas” chamando os povos daquele tempo em direção à imortalidade, e a segunda
foi o clamor dos céus, depois da “época escura” da humanidade, conclamando a
terra inteira a sondar as “fronteiras desconhecidas””.
“Até que a ciência inaugure a estrada da aceitação e
implemente o “tempo social” dos Espíritos entre os Homens, continuemos
marchando, paulatinamente, e sem cessar, nos rumos da vida fora da matéria,
encontrando-nos, desde já, em plena reencarnação, com nossos entes queridos que
já partiram , fazendo luzir em nossas vidas, por antecipação, a plenitude da
imortalidade, conforme asseveram os “sábios luminares” na excelente indicativa:
“Não pode haver nisso profanação, quando
haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e
convenientemente””.
UNIDOS PELO AMOR
Ética e Cidadania à Luz dos Fundamentos Espíritas
Wanderley S. de Oliveira
Pelos espíritos Ermance Dufaux e Cícero Pereira
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